Presidente tenta se afastar da responsabilidade pela violência extremista. Horas depois, abandona o país.
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Depois da derrota eleitoral, foram dois meses sem exercer a presidência da República e com poucas aparições públicas, nas quais proferiu discursos no mínimo ambíguos, que alcançaram seu intuito: manter a mobilização de sua base extremista – nos primeiros dias com bloqueios de estradas, depois em acampamentos em frente a quartéis militares, e nas últimas semanas com ações de violência urbana e planejando atentados a bomba.
A dois dias do fim do mandato, Jair Bolsonaro utilizou sua última live (foram 181 transmissões semanais desde 2019) para tentar se livrar de qualquer responsabilização pelos atos golpistas que sempre instigou.
Disse que “nada justifica essa tentativa de ato terrorista na região do aeroporto” de Brasília e queixou-se de que “classificam como bolsonarista” o homem preso por planejar o atentado. “Hoje em dia, se alguém comete um erro é bolsonarista”. O fato é que os terroristas identificados não apenas são bolsonaristas como participaram tanto do acampamento de Brasília quanto da noite de violência no dia da diplomação de Lula.
Bolsonaro lavou as mãos em relação aos acampamentos golpistas em todo o país, que classificou de manifestações espontâneas e sem liderança. “Eu não participei desse movimento. Eu me recolhi”. Mas há fartas evidências de envolvimento de seu círculo mais próximo – em especial os generais Braga Netto e Augusto Heleno – na organização e fomento aos acampados.
O presidente usou frases supostamente destinadas a desencorajar atos violentos que tentem impedir a posse de Lula: “O Brasil não acaba em 1º de janeiro”, “Não tem tudo ou nada”, “Somos diferentes do outro lado, respeitamos a Constituição”. Por outro lado, deixou escapar que, no período, dedicou-se a conspirar para reverter o resultado democrático: “Como foi difícil ficar dois meses calado trabalhando para buscar alternativas”. E antes do fim da transmissão, com se a câmera tivesse sido “esquecida” ligada, filmando o chão após o pronunciamento oficial, ouviu-se nitidamente o grito de guerra militar “Selva!”.
Cerca de três horas depois do fim da live, Jair Bolsonaro abandonou o país em avião presidencial da FAB, sem agenda oficial ou qualquer justificativa, com destino a Orlando, nos Estados Unidos.
Fonte: UOL (acesse aqui)
Autor: Wanderley Preite Sobrinho e Giovanna Galvani
Publicado em: 31/12/2022