Terrorista é preso por planejar atentado a bomba

Objetivo com explosões era levar a estado de sítio. Cúmplice está foragido. Suspeita-se de ligações com políticos e militares.

George Washington de Oliveira Sousa foi preso na noite de 24 de dezembro após instalar e tentar detonar uma bomba em um caminhão de combustível próximo ao aeroporto de Brasília. Morador de Xinguara, no Pará, ele se apresenta como gerente de postos de gasolina e vem participando das manifestações golpistas em frente ao quartel-general do Exército em Brasília. Em sua casa foi encontrado um arsenal de armas e munições, além de artefatos explosivos usados em garimpo ilegal ou pedreira.

Em depoimento à polícia, ele disse que o objetivo era explodir uma bomba no estacionamento do Aeroporto Internacional de Brasília durante a madrugada e em seguida fazer denúncia anônima sobre a presença de outras duas bombas no interior da área de embarque. Também havia a intenção de explodir postes próximos à subestação de energia de Taguatinga, para provocar a queda da eletricidade na cidade e “dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio” (leia a íntegra do depoimento).

O segundo homem envolvido na trama foi identificado como Alan Diego dos Santos Rodrigues. Ele teria instalado a bomba no caminhão. Alan foi candidato a vereador em 2016 na cidade de Comodoro, no Mato Grosso, pelo PSD. Após a revelação de sua participação na preparação do atentado, o partido o expulsou. Alan está foragido.

Conexões políticas

O repórter Alceu Castilho, diretor do portal De Olho nos Ruralistas, apurou que George Washington integra uma extensa rede de postos de combustíveis e transportadoras atuante em vários estados que compõem o Arco do Desmatamento na Amazônia. “É uma rede de triangulações. Em torno das quais se observa a construção de um império — que passa pela logística e pela agropecuária. O terrorista George Washington não é um terrorista aleatório. E sim um empresário enraizado na Amazônia, por sinal muito amigo das dívidas, observem as dívidas dele, em conexão direta com outros tantos interessados na derrubada do governo Lula. (Que promete combater a ilegalidade na Amazônia.)”.

No dia 30 de novembro, os dois terroristas identificados estiveram em uma sessão no Senado promovida por parlamentares bolsonaristas para questionar o processo eleitoral e instigar um golpe que impeça a posse de Lula. O evento durou 11 horas, teve a presença de influenciadores e audiência de milhões de pessoas nas redes sociais.

Em suas redes, Alan Diego aparece ao lado de diversos políticos bolsonaristas, como os deputados federais Hélio Lopes (PL-RJ), Daniel Silveira (PTB-RJ) e José Medeiros (PL-MT) e o senador eleito Magno Malta (PL-ES).

Envolvimento militar

Interrogado pela polícia, George Washington reconheceu que pretendia causar as explosões para chamar a atenção para o “movimento” e disse que o objetivo era “dar início ao caos”, aterrorizando a população para, em suas palavras, “provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de um estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil”.

Já foi revelada a participação do general Braga Netto – ex-candidato a vice-presidente da República na chapa de Bolsonaro – como o principal articulador do chamado “QG do golpe” em Brasília.

O general Augusto Heleno, por sua vez, é suspeito de ter coordenado, via Gabinete de Segurança Institucional (GSI), os atentados terroristas realizados na capital na noite da diplomação de Lula. George Washington confessou ter participado dos atos em 12 de dezembro e Alan Diego também estava presente. O terrorista preso afirmou que a omissão das forças de segurança o estimulou a avançar no planejamento de atentados mais graves: “ali ficou claro para mim que a PM e o bombeiro (sic) estavam ao lado do presidente e que em breve seria decretada a intervenção das Forças Armadas”. Ninguém foi preso pelos crimes daquela noite.

Influência de Bolsonaro

O terrorista disse ainda que foi o discurso do presidente que o convenceu a se armar. “O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: ‘Um povo armado jamais será escravizado’”. George Washington tem registro de CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) e afirmou ter gastado R$ 160 mil na compra de pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições.

Jair Bolsonaro ficou em silêncio diante da descoberta do atentado terrorista. O presidente já anunciou que viajará para os Estados Unidos três dias antes da posse de Lula. Mais do que o motivo aparente difundido nas redes sociais – recusar-se a passar a faixa para o presidente eleito – o gesto de Bolsonaro vem sendo interpretado como fuga antecipada, para não ser responsabilizado em caso de novos atentados terroristas até a posse. Seu filho Carlos Bolsonaro deixou o país, também rumo aos Estados Unidos, no dia 24 de dezembro.

Flávio Dino: “não haverá anistia”

A oito dias de se tornar ministro da Justiça, Flávio Dino anunciou em sua conta no Twitter o compromisso em não deixar impunes as atividades golpistas e os episódios de terrorismo de extrema-direita:

“1. Os graves acontecimentos de ontem em Brasília comprovam que os tais acampamentos ‘patriotas’ viraram incubadoras de terroristas. Medidas estão sendo tomadas e serão ampliadas, com a velocidade possível. 2. O armamentismo gera outras degenerações. Superá-lo é uma prioridade.

3. Reitero o reconhecimento à Polícia Civil do DF, que agiu com eficiência. Mas, ao mesmo tempo, lembro que há autoridades federais constituídas que também devem agir, à vista de crimes políticos.

4. As investigações sobre o inaceitável terrorismo prosseguem. 5. O delegado Andrei, futuro Diretor Geral da PF, tem feito o acompanhamento, em nome da equipe de transição. 6. Não há pacto político possível e nem haverá anistia para terroristas, seus apoiadores e financiadores.”

Fonte: Vai ter golpe? (acesse aqui)

Autor: Vai ter golpe?

Publicado em: 28/12/2022