Ex-comitê de Bolsonaro vira “QG do golpe”

General Braga Netto articula os protestos e alimenta esperanças pela intervenção militar: “Não percam a fé”.

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Reportagem do portal Metrópoles revela que a casa alugada para sediar o comitê da campanha à reeleição de Bolsonaro, no Lago Sul de Brasília, “virou uma espécie de central do golpe, onde apoiadores do presidente, liderados pelo ex-ministro e ex-candidato a vice Walter Braga Netto, se reúnem para discutir estratégias destinadas a questionar o resultado das eleições”. O fluxo na casa é intenso.

Braga Netto tem dado expediente no local regularmente, acompanhado por uma equipe que inclui oficiais das Forças Armadas. Na última semana, recebeu visitas de políticos apoiadores do presidente e conhecidos por propagar conspirações mentirosas a respeito do processo eleitoral, como os deputados Osmar Terra e Marcel Van Hattem e os senadores Eduardo Girão e Guaracy Silveira. Eles reconheceram que as reuniões giraram em torno de supostas irregularidades na auditoria das urnas.

Também frequentam a casa organizadores e participantes dos atos antidemocráticos que após as eleições paralisaram rodovias e ainda acampam em frente a quartéis pedindo a anulação das eleições e intervenção dos militares. Produtores do agronegócio estiveram lá, em carros com bandeira do Brasil. Um deles vestia camiseta com mensagem pedindo intervenção militar. Horas depois, um dos veículos foi visto na manifestação bolsonarista em frente ao quartel-general do Exército.

A rotina de Braga Netto alterna visitas ao Palácio do Alvorada – onde Bolsonaro se mantém em silêncio e sem dar expediente – e a intensa rotina no “QG do golpe”.

“Não percam a fé”

Em encontros recentes com golpistas, o general Braga Netto tem ouvido queixas de que “nada acontece” e de que muitos estão perdendo as esperanças em uma virada de mesa. Em resposta, em mais de uma ocasião, ele promete que as coisas não vão ficar assim e pede perseverança.

“Eu falei que eu iria embora, que não acreditava em mais nada, e ele (Braga Netto) falou assim: ‘Fica tranquilo que vai acontecer’”, relatou Carlos Alberto Capeletti, prefeito do interior de Mato Grosso acampado em Brasília.

“Ele nos tranquilizou, falou que não é para nós nos preocupar. Falou também que vai acontecer algo muito bom para o Brasil até o final de semana. Não podemos esmorecer, temos que ampliar esse movimento”, conclamou o prefeito. “Vamos acreditar nessa causa e fazer de tudo para que a gente consiga o apoio dos militares para fazer um Brasil melhor”.

Em outro vídeo, Braga Netto cumprimenta militantes bolsonaristas na frente do Alvorada, ouve apelos e afirma: “Não percam a fé. É só o que eu posso falar para vocês agora”.

Segundo Malu Gaspar, em O Globo, essa declaração “enigmática” acendeu um rastilho de pólvora nas redes bolsonaristas, agitando os radicais na expectativa de um golpe. “A fala do general é mais uma da longa lista de demonstrações de atores importantes do bolsonarismo feitas desde o segundo turno que, embora pareçam despretensiosas, funcionam como ‘dog whistle‘ (apito de cachorro) – expressão popularizada nos Estados Unidos que define mensagens cifradas e interpretadas devidamente apenas pelo seu grupo alvo”.

“A estratégia é manter pairando no ar a ideia de que uma reviravolta iminente no resultado eleitoral está no horizonte – em outras palavras, que algo imponderável ainda vai impedir Luiz Inácio Lula da Silva de tomar posse em janeiro”.

Fonte: Metrópoles (acesse aqui)

Autor: Sarah Teófilo e Rodrigo Rangel

Publicado em: 18/11/2022