PF, Moraes e as “quatro linhas” contra o golpe

Diante da inação das instituições, novos caminhos são necessários para evitar a anunciada insurreição bolsonarista.

Em sua coluna no UOL, o jornalista Leonardo Sakamoto comenta a operação de busca e apreensão contra os empresários bolsonaristas flagrados defendendo o golpe em grupo no WhatsApp. Solicitada pela Polícia Federal e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, a ação causou imediatas críticas do procurador-geral da República, Augusto Aras, e no dia seguinte a grande imprensa destacou juristas questionando sua legalidade.

Segundo o portal Jota, nos celulares apreendidos há conversas entre os investigados e o próprio Aras, com críticas a Alexandre de Moraes e apoio a Bolsonaro. Mas o problema não se resume a isso, aponta Sakamoto:

“Foram as ações e inações de Aras e de outros atores públicos que chocaram o ovo da serpente, fazendo com que fossem procuradas outras saídas institucionais para evitar que a democracia fosse envenenada e morta. (…) Agora, muitos outros vão pensar antes de financiar (ou financiar de novo) atos antidemocráticos promovidos pelo presidente da República. Ou bancar ilegalmente o impulsionamento de ataques a adversários em redes sociais e de disparos em massa de mensagens nas eleições”.

Nas palavras de Eloísa Machado, jurista e professora da FGV Direito-SP: “Após quatro anos de omissões gravíssimas, outros caminhos institucionais estão sendo desenhados para suprir a inércia que nos trouxe e manteve aqui”.

Nas de Sakamoto: “Isso não é operar acima da lei, mas procurar novas formas de operar dentro das quatro linhas (para usar a metáfora pueril do presidente), após os caminhos antigos terem sido interditados por seus aliados, como Aras”.

Se há quatro anos o bolsonarismo testa, torce e tortura as “quatro linhas” em busca de brechas para avançar com seu projeto autoritário, é de celebrar que alguns agentes públicas sejam capazes de reagir com as armas disponível para evitar a consumação do golpe.

“O golpe de Estado não será barrado por pessoas fazendo ciranda em praça pública, nem por balões coloridos soltos ao céu com a palavra ‘democracia’, muito menos por reclamações no Twitter. Para além de intensa mobilização da sociedade, dos movimentos sociais aos donos do dinheiro grosso, é preciso que trincheiras sejam cavadas e novos caminhos criados em toda instituição que não foi sequestrada pelo governo.

“A democracia está sentada em uma bomba-relógio pronta para explodir em 7 de setembro, quando as celebrações do bicentenário da Independência devem ser sequestradas por micaretas golpistas. Instituições têm até essa data para cavar as tais trincheiras”.

O presidente convoca apoiadores para irem às ruas “pela última vez”, fomenta mentiras sobre fraude nas urnas e conspirações com sobre os ministros do STF e do TSE. “Em grupos bolsonaristas, correm mensagens afirmando que o único resultado que provará que não houve fraude é a vitória de Jair – que repete incessantemente que ‘um povo armado jamais será escravizado’, enquanto libera armas e munições para seus seguidores. Investigar, neste momento, portanto, é fundamental. Caso contrário, se até as instituições que restaram se omitirem, melhor será comprar pipoca e assistir do sofá à queda da República”.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: Leonardo Sakamoto

Publicado em: 23/08/2022