Como Lula escapou da armadilha da GLO

Diante da invasão dos Poderes, convocação dos militares reduziria autoridade civil e abriria brecha para golpe.

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No calor dos acontecimentos do dia 8 de janeiro em Brasília, enquanto milhares de bolsonaristas invadiam e depredavam as sedes dos três Poderes, Lula recebeu, do ministro da Defesa, José Múcio, a sugestão de adotar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), recurso que coloca as Forças Armadas como responsáveis por garantir o retorno à normalidade em situações de grave perturbação da ordem pública.

O presidente da República recusou essa alternativa por temer que as Forças Armadas, ao invés de conterem o caos, ajudassem os invasores a darem um golpe de Estado. Tal desdobramento nem chegaria a ser surpreendente, considerando-se o envolvimento dos militares em todos os atos golpistas, que cresceram desde o resultado eleitoral e culminaram no 8 de janeiro. Algum tipo de intervenção das Forças Armadas sempre foi, por sinal, o pedido explícito dos golpistas.

Lula: GLO daria em golpe

“Se eu tivesse feito GLO eu teria assumido a responsabilidade de abandonar minha responsabilidade. Aí sim estaria acontecendo o golpe que essas pessoas queriam”, disse Lula, quatro dias depois de rejeitar a sugestão de seu ministro da Defesa e decidir-se por uma intervenção civil apenas na Segurança Pública do Distrito Federal.

“O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir o governo, dispute a eleição e ganhe. É por isso que eu não fiz GLO”, completou.

“Muita gente conivente”

“Teve muita gente conivente. Muita gente da Polícia Militar conivente. Teve muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Estou convencido que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para que gente entrasse, porque não tem porta quebrada. Significa que alguém facilitou a entrada”, disse ele.

Lula também demonstrou que não confia o suficiente em militares para tê-los à sua volta, exceto se forem velhos conhecidos. “Agora, por exemplo, eu não tenho ajudante de ordens. Meus ajudantes de ordens são meus companheiros que trabalharam comigo antes. Por que eu não tenho? Eu pego o jornal, está o motorista do Heleno dizendo que vai me matar e que eu não vou subir a rampa. O outro diz que vai me dar um tiro na cabeça e que eu não vou subir a rampa. Como é que eu vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro? Então eu coloquei como meus ajudantes de ordem os companheiros que trabalham comigo desde 2010, todos militares.”

Fonte: Poder360 (acesse aqui)

Autor: Caio Spechoto

Publicado em: 12/01/2023