Ação contra empresários inflama ataques ao STF e convocação às ruas, mas financiadores se veem encurralados.
Até na entrevista ao Jornal Nacional, para milhões de espectadores, Jair Bolsonaro falou em trégua com o Supremo Tribunal Federal (STF) e em aceitar o resultado das eleições (“desde que limpas e transparentes”, a ressalva golpista de sempre).
Mas a operação de busca e apreensão contra empresários bolsonaristas que defenderam golpe e ditadura em grupo do WhatsApp inflamou a revolta dos seguidores do presidente contra a Suprema Corte.
Segundo Robson Bonin, na coluna “Radar” da Veja, a operação da PF “incendiou os preparativos da militância governista para os atos de 7 de Setembro”, e ao autorizar as ações “Alexandre de Moraes implodiu a trégua que vinha sendo costurada com Bolsonaro e seus aliados”. Conselheiros do presidente teriam afirmado que “agora não há mais espaço para segurar a militância crítica ao STF nas ruas”.
Por outro lado, há quem tenha reparado que a reação da linha de frente bolsonarista nas redes veio mais contida do que se poderia esperar. Isso teria a ver com as descobertas da investigação. Não apenas pela constrangedora revelação de que os empresários simpáticos ao golpe trocavam mensagens com o procurador-geral da República, e fiel escudeiro do presidente, Augusto Aras. Mas porque os indícios de crimes dos envolvidos não vêm de hoje.
Miriam Leitão, n’ O Globo, informa que o grupo de empresários não está sendo investigado pelas mensagens no WhatsApp, mas por suspeita de financiamento das manifestações antidemocráticas do 7 de setembro do ano passado. “Há risco de que sejam reincidentes no financiamento de atos antidemocráticos. Por isso, a Polícia Federal tinha mesmo que fazer o que fez e pedir a ação de ontem de apreensão de celulares e quebra do sigilo bancário. Eles podem estar indo além das palavras. Estamos chegando a outro 7 de setembro com novamente um ambiente de tensão se formando”.
Vera Magalhães reforça: “A ação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes e executada pela Polícia Federal teve como intuito principal estrangular o financiamento de empresários bolsonaristas a atos antidemocráticos. ‘Ficou mais difícil financiar atos golpistas no próximo Sete de Setembro’, resumiu uma pessoa próxima às investigações”.
Assim, às vésperas do bicentenário da Independência, vê-se movimentos em duas direções opostas: no baixo escalão bolsonarista, fervura máxima; entre a elite nacional que banca o golpismo, barbas de molho.
No entanto, como os dutos do financiamento à extrema direita brasileira são também internacionais, todo cuidado é pouco, e a assertividade de Alexandre de Moraes, mais que necessária, é urgente.
Fonte: O Globo (acesse aqui)
Autor: Miriam Leitão
Publicado em: 24/08/2022