“UMA REELEIÇÃO DE JAIR BOLSONARO PRODUZIRIA UMA GUINADA COM MUITAS POSSIBILIDADES DE ROMPER O REGIME DEMOCRÁTICO.”

Brasílio Sallum Jr. – Anpocs – 12/10/22

Professor da USP, o sociólogo Brasílio Sallum Jr. mediou a mesa “Democracia e eleições no Brasil – para onde vamos?”, no primeiro dia do 46º encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Ele é autor de um dos artigos de um livro de mesmo nome, lançado pela Hucitec e disponível para download.

Para Cláudio Couto, da FGV, outro participante da mesa, o bolsonarismo, de tanto atacar o Judiciário, consegue enfraquecê-lo: “Ao ser tantas vezes provocado, o Judiciário toma a aparência de um jogador do jogo político, e não apenas de um árbitro. (…) A atuação do Poder Executivo produz a necessidade de uma atuação do Judiciário incessante como freio, de modo que se produz uma exaustão desse freio”, afirma.

“Não é que o TSE e o STF estejam extrapolando suas funções; estão, na verdade, agindo em defesa das regras do jogo, mas, como precisam fazer isso repetidas vezes, acabam por oferecer munição aos ataques de que são alvo”, argumentou, segundo o repórter Uirá Machado.

Contando com o apoio de um novo Centrão, ainda mais radicalizado e afinado com suas pautas autoritárias, se reeleito Bolsonaro não teria impedimentos para avançar em sua intenção de manietar o Judiciário. Couto mencionou as declarações recentes de Bolsonaro e de seu vice, Hamilton Mourão, sobre ampliar o número de ministros do STF. Mourão, que se elegeu senador, defende abertamente que o Supremo precisa passar por reformas amplas.

Para o sociólogo Ricardo Mariano, da USP, outra vertente do sequestro do Judiciário é o ativismo político evangélico, que “também investe na ocupação do Congresso, na revisão de currículos escolares e na defesa de que crenças e valores religiosos devem substituir as bases racionais da argumentação pública, por exemplo. Trata-se de movimento de longo prazo e expansão constante, numa reação à Constituição de 1988, aos movimentos sociais, à agenda feminista e LGBT, entre outros temas considerados progressistas. ‘Esse ativismo continuará a produzir efeitos políticos fraturantes a longo prazo, em prejuízo de partidos, movimentos sociais, minorias, inclusive após o passamento do bolsonarismo’, diz Mariano”.

Marta Arretche, também da USP, concorda que a eleição consagrou a força de uma extrema direita “muito mais organizada, com muito mais densidade eleitoral, com muito mais capacidade de organização e mobilização do que nós prevíamos.”

Fonte: Folha de SP (acesse aqui)

Autor: Uirá Machado

Publicado em: 12/10/2022