Guilherme Casarões – Twitter – 08/08/22
Em longo fio no Twitter, o cientista político da FGV EASP começa por expor os três argumentos de quem desdenha da ameaça de golpe:
– Bolsonaro não quer o golpe, apenas criar agitação pra negociar uma anistia se perder nas urnas;
– Bolsonaro não tem apoio das Forças Armadas;
– Bolsonaro não tem apoio internacional.
Embora o primeiro faça sentido – devido à incompetência notória do presidente para liderar o que quer que seja –, a radicalização de seus seguidores não pode ser minimizada. O que nos leva à quase certeza de que haverá tentativa de golpe, e então à dúvida: vai dar certo?
Para projetar o cenário, Casarões rejeita a comparação internacional mais óbvia: o 6 de janeiro trumpista nos Estados Unidos. Por lá, o derrotado nas urnas não teve apoio das Forças Armadas. E aqui, teria?
“É difícil dizer o que passa na cabeça da cúpula militar. Em contraste com a politização antipetista e as manifestações pontuais contra Dilma desde a abertura da Comissão da Verdade, os generais têm se mantido em silêncio frente aos crimes, desmandos e ameaças do atual chefe”. Some-se a isso as PMs e parte dos 600 mil CACs (além da nova PRF, francamente bolsonarizada), e o segundo argumento é descartado: “Não parece que Bolsonaro evitaria um golpe por mera falta de meios de força. Ele tem”.
Então Casarões vai buscar na América Latina dois exemplos de autogolpes bem-sucedidos: a Venezuela de Maduro (2017) e o Peru de Fujimori (1992).
A deterioração democrática sob Chávez e Maduro nos ensina que:
“1) O autoritarismo se aprofunda com o tempo e Bolsonaro sabe disso. A tomada do poder de fato virá por dois caminhos: a reeleição ou a exceção.
2) O desequilíbrio entre poderes é chave para pavimentar o caminho autoritário.”
O caso peruano, porém, é ainda mais ilustrativo do que podemos enfrentar. O autogolpe de Fujimori se baseou no seguinte discurso: “era necessário combater a corrupção dos juízes, modernizar a burocracia, realizar reformas econômicas e combater o terrorismo (no caso, do Sendero Luminoso) e a violência urbana”. Parece familiar?
“Percebam que Bolsonaro constrói uma narrativa bastante ‘fujimorista’:
1. As instituições estão corrompidas e não atendem aos anseios populares;
2. Partidos de oposição estão contra o Brasil;
3. Só um líder forte pode combater os inimigos internos, que ameaçam a liberdade.
Para sustentar essa narrativa, Bolsonaro explora alguns elementos:
1. A desconfiança generalizada nas instituições democráticas;
2. Uma rejeição difusa à esquerda e sua associação com o crime;
3. O senso de ameaça aos valores tradicionais: Deus, pátria, família e liberdade.”
A ameaça máxima, segundo Casarões, virá antes das eleições, provavelmente no 7 de setembro, com atentados forjados e episódios violentos que sirvam de pretextos para medidas de exceção, até mesmo a suspensão das eleições.
Como evitar o autogolpe? Neste caso é o fracasso de Jorge Serrano, na Guatemala (1993) que ensina: pressão internacional, baixa percepção de ameaça interna e forte mobilização da sociedade civil.
É esta a nossa missão nestes graves dias pela frente: “não podemos deixar de denunciar, mobilizar e desmentir as narrativas que são construídas diariamente”.
Fonte: Twitter (acesse aqui)
Autor: Guilherme Casarões