PRF miliciana: força auxiliar para o golpe?

Ao contrário da PF, que resistiu como instituição, a polícia rodoviária se bolsonarizou, com investigações ilegais e promovendo chacinas.

A imagem de Genivaldo de Jesus Santos sendo assassinado por asfixia num camburão da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em maio, em Umbaúba (SE), revela mais do que o horror de que são capazes os agentes públicos de segurança – uma vez que práticas de tortura e extermínio fazem parte do cotidiano das polícias Brasil afora, inclusive nessa modalidade.

O caso é emblemático por chamar a atenção para a transformação da PRF sob o governo Bolsonaro. A instituição, que nasceu para ser uma patrulha auxiliar nas estradas, ganhou poder de investigação, passou a atuar longe das rodovias e a liderar operações sangrentas e recheadas de ilegalidades, como as chacinas de Varginha, em Minas (26 mortos), e a da Vila Cruzeiro, no Rio (23 mortos).

Poderia se dizer que a PRF virou polícia comum, uma PM como as outras, mas é pior: trata-se de uma polícia comum federal, distribuída por todo o país, sob comando de um indicado de Flávio Bolsonaro com um histórico de práticas milicianas. Em caso de golpe, seria esta a força auxiliar nacional a apoiar o terror bolsonarista?

Ao contrário do que aparentemente se passa na Polícia Federal, “a PRF não se constrange em ser bolsonarista porque não há uma cultura organizacional de resistência às ingerências políticas”, diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Há nítidos sinais de que a corporação quer ir além da prevenção e repressão criminal nas rodovias federais, transformando-se numa polícia com maior abrangência territorial”, corrobora o sociólogo Luis Flávio Sapori, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública, da PUC Minas.

A mudança institucional começou ainda em outubro de 2019, quando portaria assinada pelo então ministro Sergio Moro, da Justiça, deu à corporação poderes de investigar e cumprir mandado judicial. Pela primeira vez na história, a PRF assumia funções então típicas da PF.

Entre 2019 e 2021, o órgão recebeu 704 milhões de reais em investimentos, 54% a mais do que no triênio anterior. Em 2022, os irmãos Flávio e Eduardo Bolsonaro mandaram 3,6 milhões de reais para a PRF por meio do orçamento secreto. Seu efetivo passou de 9,9 mil policiais para 12,2 mil. Ao mesmo tempo, afastou-se de sua missão original, afrouxando a fiscalização nas estradas a mando do presidente e prendendo 1.226 pessoas em municípios onde não há nenhuma rodovia federal. E mata cada vez mais: em 2019 foram quatro mortes; em 2022 já estão em 38.

Outro movimento suspeito da PRF é a compra de softwares de rastreamento, identificação e interceptação de números de aparelhos celulares. “Não há controle nem transparência sobre a atividade de inteligência policial no Brasil, o que aumenta o risco de que esses equipamentos sejam utilizados com fins políticos, violando uma série de garantias fundamentais”, alerta Gabriel de Carvalho Sampaio, da Conectas Direitos Humanos.

Fonte: Piauí (acesse aqui)

Autor: Allan de Abreu

Publicado em: 07/08/2022