Operação foi concebida no Planalto. Pelo menos 619 ônibus foram abordados. Nordeste concentrou metade das operações.
O alcance pode ter sido irrisório, mas o plano era claramente golpista: atrapalhar o deslocamento de eleitores na região em que Lula é mais votado.
Segundo Lauro Jardim, em O Globo, a ação começou a ser orquestrada em 19 de outubro pelo núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro. A decisão foi “instruir os chefes dos órgãos que auxiliarão a Justiça Eleitoral, como as Forças Armadas, Polícia Federal (PF) e Polícia Rodoviária Federal (PRF), para que os seus comandados fiquem atentos ao transporte irregular de eleitores no Nordeste”.
Com 27% dos eleitores, a região foi alvo quase 300 operações no dia da eleição, metade do total.
No sábado, véspera do segundo turno, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, proibiu qualquer operação da PRF relacionada ao transporte de eleitores. “O descumprimento da vedação pode acarretar responsabilização criminal do diretor-geral da PRF, por desobediência e crime eleitoral, bem como dos respectivos executores da medida”, informou o TSE.
Mas o órgão ignorou a decisão judicial. “Ó a cara de alguém que tá preocupado com as determinações do ministro…”, escreveu o policial rodoviário federal Adalberto Alfredo Schumann, lotado em Brasília, em grupo de WhatsApp. E continuou: “Só cumprindo o cartão programa e correndo atrás dos eleitores do Lula q saíram do cercado para votar e não conseguiram voltar”. “Cartão programa” são as diretrizes de policiamento para determinada data, vindas da cúpula da PRF, explica Allan de Abreu em reportagem na revista Piauí. Outros policiais parabenizaram a operação em tom político: “Vocês estão salvando o país”, “arrocha os incautos”.
Condenado no comando
O diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, chegou a postar nas redes sociais pedido de voto para a reeleição de Bolsonaro, mas depois apagou o conteúdo. Como revelou reportagem de Allan de Abreu em agosto na Piauí, Silvinei já enfrentou processos por cobrança de propina, ameaça de morte e espancamento (neste caso condenado e recorrendo), além de oito sindicâncias internas na PRF, das quais nada se sabe porque foram protegidas no governo Bolsonaro por sigilo de cem anos. Em 2019, assumiu o comando da PRF no Rio de Janeiro e estreitou laços com Marcelo Crivella, com o governador (depois cassado) Wilson Witzel e com Flávio Bolsonaro.
Na gestão bolsonarista, a PRF afastou-se da fiscalização das estradas e tornou-se um braço armado do governo federal em violentas operações de repressão, inclusive o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe, por asfixia num camburão, e duas chacinas que resultaram em 49 mortes.
Fonte: Piauí (acesse aqui)
Autor: Allan de Abreu
Publicado em: 30/10/2022