“NÃO É MAIS ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE. É PLEBISCITO PARA DITADOR.”

Celso Rocha de Barros – Folha de S. Paulo – 10/10/22

O desequilíbrio de forças no Congresso recém-eleito deixa evidente que estamos a um passo do abismo: com Executivo e Legislativo na mão, Bolsonaro só espera o “autorizo” das urnas para avançar com seu plano ditatorial.

“Se Jair Bolsonaro vencer, terá maioria para mudar a Constituição e neutralizar o Supremo Tribunal Federal. […] Daí em diante, é o roteiro da Hungria, da Venezuela, de todos os novos autoritários: se você tiver a suprema corte aparelhada, tudo o que você fizer será declarado constitucional, e o golpe raiz, com tanque na rua, se torna desnecessário”, explica Celso Rocha de Barros.

Ele lembra que foram justamente o Senado e o STF as duas instituições que, no primeiro mandato, protegeram a democracia brasileira dos reiterados ataques do presidente. Reeleito Bolsonaro, a partir de 2023 o país perde a capacidade de resistir ao autocrata.

O colunista ressalta que o avanço da extrema-direita se dá não sobre a esquerda, mas no espaço antes ocupado pela direita tradicional. PSDB, PTB e Novo, que surfaram na onda do bolsonarismo, foram dizimados nas urnas. “O bolsonarismo só aceita a sua variedade de direita, e todo aliado da direita moderada será substituído por um radical da quadrilha na primeira oportunidade”.

Estaria na mão da direita não extremista, portanto, a decisão de prosseguir com esse suicídio político: vai continuar bancando Jair? Neste caso, “as instituições brasileiras, as mesmas que foram tão eficazes em forçar a esquerda a moderar seu discurso nas últimas décadas, vão ser castradas”.

E só restará extremismo. Afinal, se nem mesmo compondo chapa com os moderados Alckmin e Haddad, e recebendo apoio de ampla frente democrática que inclui vários ex-adversários, Lula conseguir derrotar Bolsonaro, é sinal de que a centro-esquerda também ficou inviável eleitoralmente. Ao assistirmos ao presidente implementar seu projeto de ditadura, diante de uma democracia em ruínas, é a extrema-esquerda que deve crescer.

Ele conclui com um recado para políticos de direita que pensam em apoiar Bolsonaro: “perguntem aos esquerdistas moderados que apoiaram o Chávez esperando moderá-lo o que eles ganharam com isso. Você não lembra mais o nome de nenhum deles? Pois é”.

Fonte: Folha de SP (acesse aqui)

Autor: Celso Rocha de Barros

Publicado em: 10/10/2022