“MÚCIO TEM TODAS AS QUALIFICAÇÕES NECESSÁRIAS A PROMOVER EM SILÊNCIO O URGENTE ENQUADRAMENTO DAS FORÇAS MILITARES E DE SEUS COMANDANTES.”

Luís Costa Pinto – 05/12/22 – Brasil 247

Se Hamilton Mourão aprova o nome de José Múcio Monteiro como ministro da Defesa, a democracia brasileira só pode desaprovar. Ainda mais quando se sabe que, antes de ser escolhido, ele fez lobby pela nomeação do suspeitíssimo Aldo Rebelo – que “alinha-se com a direita conspiratória das Forças Armadas e dos ruralistas, tendo recebido apoio do general Villas Bôas à sua candidatura ao Senado”, nas palavras de Luís Nassif. As cerejas do bolo mofado: Múcio é egresso da Arena (partido da ditadura militar) e hoje integra o PTB do fascista de ocasião Roberto Jefferson.

Como não se exasperar, enfim, ao ver escolhido um ministro da Defesa praticamente imposto pelos atuais comandantes militares, os mesmos que por quatro anos alimentaram conspirações golpistas de Bolsonaro e agora estão prestes a saírem impunes dos crimes em série dos quais foram cúmplices? “Não tem como não dar errado, vai dar errado”, resume no título o mais recente episódio do podcast Medo e Delírio em Brasília sobre o assunto.

Artigo do jornalista Luís Costa Pinto no site Brasil 247, porém, vai na contramão do desânimo à esquerda: para ele, José Múcio “tem perfil ideal” para liderar os militares, um homem “lhano e leal” em toda sua trajetória política.

Armadilha do udenismo

Ele alerta que o veto dos progressistas a Múcio remete a táticas udenistas. “É desonesto desqualificá-lo politicamente para o Ministério de Lula – em quaisquer cargos – partindo de acusações saídas dos arquivos udenistas. O udenismo atávico foi ferramenta da extrema-direita para destroçar os avanços da esquerda na política brasileira. Sempre. Sobretudo, de 2013 para cá. É um desalento ver personalidades da esquerda caindo novamente nessa armadilha”.

Collor, Mensalão, Campos, pedaladas

A carreira política do pernambucano José Múcio tangenciou uma série de episódios cruciais para o país nas últimas décadas, e seu comportamento naquelas ocasiões é qualificado pelo jornalista como “lealdade suprapartidária”.

Em 1992, foi indicado pelo PFL para minar a CPI que investigava as malfeitorias de PC Farias, tesoureiro do presidente Fernando Collor. “No curso das investigações, Múcio foi se convencendo da culpa de Collor e das irregularidades praticadas”. Procurou o líder do partido, Luís Eduardo Magalhães, disse que votaria contra o governo e colocou sua vaga na CPI à disposição.

Em 2005, quando surgiram as denúncias do “Mensalão”, Múcio era líder do PTB na Câmara, partido presidido por Roberto Jefferson, o pivô do escândalo. “Fez um trabalho gigantesco de jogar com a bola do governo Lula e, ainda assim, defender Jefferson na Comissão de Ética que terminaria por indicar a cassação do presidente do PTB”.

A forma como atuou naquela crise o fez ganhar, no segundo mandato de Lula, a liderança do governo na Câmara. De lá foi alçado a ministro da Articulação Política e depois indicado para o Tribunal de Contas da União.

Em 2014, recebeu de Eduardo Campos, então governador de Pernambuco e presidente do PSB, o convite para sair do TCU e filiar-se ao partido. Campos seria vice de Lula em seu plano de retornar à Presidência, e Múcio sairia para governador. Mas Dilma Rousseff não abriu mão da reeleição, e Eduardo Campos morreu e acidente aéreo na condição de candidato presidencial.

No ano seguinte, José Múcio teria alertado repetidas vezes a presidente Dilma de que o TCU poderia não aprovar a contabilidade do governo, e sugerido adaptações: “Do jeito que está, não passa. São alterações bobas, dá para fazer”. Ela se recusou a fazer qualquer alteração nas contas, porque de fato não havia nada inexplicável, mas “o ambiente político não aconselhava lançar gasolina nas chamas congressuais e dar argumentos aos golpistas que despontavam nas asas de Eduardo Cunha”. Múcio sabia do risco: “Dilma é uma mulher honesta, direita, decente, correta. Se quiserem armar para ela, armarão com essas contas”.

Por essas e outras, o jornalista defende que Múcio tem o talento de “engenheiro construtor de pontes políticas e caso seja confirmado na pasta da Defesa tem todas as qualificações necessárias a promover em silêncio o urgente enquadramento das forças militares e de seus comandantes. Raras pessoas sabem dar ordens firmes estampando um sorriso no rosto e falando suavemente”.

Militares preferiam Alckmin

Luís Costa Lima também sustenta que os militares teriam outra preferência para a Defesa. “Alçar Geraldo Alckmin à condição de Ministro da Defesa é exatamente o que desejam os militares que flertam com golpes. Não o fazem porque o vice de Lula lhes dê trela ou pisque para eles. Mas, sim, por defeito de fabricação e déficit democrático em suas formações”. O jornalista lembra que, nos debates em torno da lei que criou o Ministério da Defesa, em 1999, os militares tentaram emplacar regra segundo a qual “o ministro da Defesa será sempre o vice-presidente da República”. “Por que isso? Porque asseguravam, daquela forma, uma conexão direta com o gabinete presidencial e não submetiam os comandantes militares de Exército, Marinha e Aeronáutica a ‘um civil qualquer’ como diziam já então”.

Em caso de recusa de José Múcio, não restaria mais alternativa ao presidente eleito do que a nomeação de seu vice para a pasta da Defesa. “Tisnar a cena política e levar Lula a um retrocesso político, que é o que representaria a nomeação de Geraldo Alckmin à revelia do correto e leal comportamento do futuro vice-presidente, é o objetivo dos comandos militares golpistas. Por isso, na resistência a isso, o presidente eleito deve conservar firmemente a indicação de José Múcio”.

Fonte: Brasil247 (acesse aqui)

Autor: Luís Costa Pinto

Publicado em: 05/12/2022