Depois de 25 anos em silêncio, fardados atuaram desde 2019 na construção da narrativa mentirosa de fraude nas urnas.
“Todas as investidas contra o sistema eleitoral no governo Bolsonaro têm ou tiveram alguma participação de integrantes da ativa ou reserva das Forças Armadas”, escreve Fabio Serapião, na Folha. A reportagem faz uma breve cronologia dos momentos cruciais da participação militar na conspiração golpista visando desacreditar as urnas desde o primeiro ano do governo.
O texto lembra que as urnas eletrônicas foram utilizadas por 25 anos sem qualquer contestação por parte das Forças Armadas. Assim que Bolsonaro assumiu a Presidência, começaram as articulações para minar a credibilidade do sistema.
A live investigada
Em 29 de julho de 2021, em uma de suas lives semanais, o presidente fez o maior ataque sem provas ao sistema eleitoral até então. A investigação sobre aquele episódio, determinada por Alexandre de Moraes, revelou os bastidores do golpismo militar nas entranhas do Palácio do Planalto.
A Polícia Federal comprovou que o uso das instituições públicas para buscar informações contra as urnas eletrônicas havia se iniciado ainda em 2019 e envolvia o general Luiz Eduardo Ramos e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do general Augusto Heleno. À frente da Abin, Alexandre Ramagem, amigo da família Bolsonaro, acionou peritos da Polícia Federal para buscar indícios de fraudes nas urnas.
Outros dois militares foram citados naquela investigação: o coronel Eduardo Gomes da Silva, que apresentou suspeitas de fraudes na live, e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, que atualmente é investigado por transações financeiras suspeitas.
Cerco ao TSE
A partir de então, “as Forças Armadas, por meio do Ministério da Defesa, chefiado pelo general Paulo Sergio Nogueira, entraram no circuito para produzir os elementos necessários para os bolsonaristas continuarem com os ataques e a disseminação de desinformação”.
“Antes da eleição, os mais de 80 questionamentos enviados ao TSE e o debate sobre a participação das Forças numa auditoria paralela serviram para pavimentar o caminho até a produção do relatório sobre a segurança do pleito”.
O documento, prometido para a noite do segundo turno, só saiu 20 dias depois, e frustrou bolsonaristas pela ausência de provas de fraudes. O ministro da Defesa, em resposta, passou mais um recibo das intenções golpistas dos militares, lançando no dia seguinte uma nota que alimenta suspeitas sem qualquer argumento novo.
Desde então, o que se vê, em paralelo aos apelos golpistas dos acampados em frente a quartéis, é uma profusão de comunicados e manifestações das Forças Armadas e de seus integrantes – redundantes ao atestar sua firme disposição de se opor ao processo eleitoral e à democracia brasileira como um todo, insistindo na narrativa delirante segundo a qual seriam um Poder moderador incumbido de proteger a nação de ameaças comunistas.
Fonte: Folha de SP (acesse aqui)
Autor: Fabio Serapião
Publicado em: 04/12/2022