Bannon investe na “primavera brasileira”

Termo inventado pelo líder da extrema-direita se espalha nas redes e aglutina a narrativa do golpismo permanente no Brasil.

No dia 1º de novembro, pouco depois do primeiro pronunciamento de Bolsonaro sobre sua derrota, Steve Bannon já comentava o episódio em seu podcast e programa de TV War Room: “A minha pergunta é: é esse o começo da primavera brasileira? Porque o povo está se levantando e ele não concedeu [não aceitou o resultado]”.

A senha estava lançada, virou trending topic no Twitter e foi rapidamente adotada pelos golpistas que bloquearam rodovias e armaram acampamentos em frente a quartéis.

Laura Scofield, da Agência Pública, explica o que significa essa narrativa que dominará as mentes e as ações da extrema-direita brasileira a partir de agora:

“Parece o início de uma revolução”, respondeu Paulo Figueiredo – neto do ditador João Figueiredo e colunista da Jovem Pan – que participava do programa com Bannon. “A questão principal não é se houve fraude real no processo de contagem, porque isso é apenas uma parte. A eleição foi muito injusta desde o início. Bolsonaro jogou e concorreu sob regras diferentes de todos os outros candidatos, incluindo Lula”. Ele citou como exemplo o bloqueio das contas bancárias de empresários bolsonaristas que haviam defendido um golpe militar em grupo de WhatsApp.

“O ‘estado profundo’ processa e persegue apoiadores de um presidente conservador”, finalizou o comentarista. O conceito de “deep state” pode ser traduzido como “estado profundo” ou “estado paralelo” e faz parte de uma teoria da conspiração que acredita que existe uma elite global que controla o que acontece no mundo. O termo também foi usado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e faz parte do que é conhecido como globalismo.

“A resistência globalista/marxista à presença de Bolsonaro no mais alto nível da política brasileira tem sido inflexível e implacável, principalmente dirigida pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, irremediavelmente corrupto”, disse outro comentarista no programa de Bannon.

“Não se trata de um golpe militar, não é uma junta militar. Lembre-se, eles estão enfrentando uma classe criminosa transnacional. São ambas as parcerias com o partido de Davos, o Fórum Econômico Mundial do Partido Comunista Chinês. É isso que está tentando dominar o Brasil”, detalhou um terceiro.

Para Isabela Kalil, antropóloga e coordenadora do Observatório da Extrema-Direita (OED), a atuação de Bannon visa preencher um vácuo de liderança. “Quando a gente está falando de movimentações que estão nas fronteiras da legalidade ou de fato na ilegalidade, fica mais fácil para as pessoas buscarem informações [com uma hashtag]”, explicou. Ao cunhar o termo Brazilian Spring, “Bannon acabou fazendo esse serviço”.

Sob a mesma hashtag, alavancou-se a repercussão de novas notícias falsas produzidas após as eleições – como a suposta influência de Biden no processo eleitoral e a live de um canal de extrema-direita argentino inventando irregularidades na apuração dos votos.

Fonte: Agência Pública (acesse aqui)

Autor: Laura Scofield

Publicado em: 09/11/2022