General Heleno por trás da noite de terrorismo?

Servidor da PF na Presidência acusa militares do GSI de orquestrar os atentados extremistas em Brasília.

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Sob anonimato, um servidor da Polícia Federal lotado na Presidência da República denunciou à Revista Fórum que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chefiado pelo general da reserva Augusto Heleno, foi o responsável pela noite de violência em Brasília após a diplomação de Lula como presidente eleito, no dia 12 de dezembro.

“GSI na cabeça”

“O que está acontecendo é terrorismo de Estado. O GSI está na cabeça disso, e o uso da área do QG, que é militar, é do Exército, não é à toa. O próprio secretário de Segurança do DF disse isso ontem em coletiva, que ‘ninguém entra lá porque é área do Exército’, uma desculpa pronta e perfeita. O GSI tem hoje poder para controlar mais de mil militares diretamente lá dentro (do QG do Exército e nos acampamentos) e eles estão literalmente bancando, mantendo e abrigando essa gente lá dentro (da área do QG) e logicamente ninguém fardado está aparecendo, porque essa é a forma de operar deles: uma guerra híbrida que alimenta e fomenta tudo que está ocorrendo ali. É explícito para quem está perto que o GSI está incitando isso com esses civis, todo mundo está por ali (Gabinete da Presidência) sabe disso”, relatou o policial, cuja identidade e cargo foram verificados pela revista, criada e dirigida há mais de 20 anos pelo jornalista Renato Rovai.

“O GSI é essencialmente formado por oficiais militares de uma geração que atuou por muito tempo no Haiti e nas GLOs (operações de Garantia da Lei e da Ordem)… Esse oficialato de Inteligência opera a partir de uma lógica de que eles podem interferir em absolutamente tudo e, numa situação como a atual, operar usando o terrorismo é algo bem natural. (…) O que aconteceu ontem foi uma atividade de terror, saíram lá do QG (acampamento dos bolsonaristas) e se espalharam por áreas totalmente distintas e distantes de Brasília ao mesmo tempo, entrando em shopping, fechando avenida, queimando ônibus e espalhando uma intimidação geral e o pânico. Eles já foram em aeroportos, um lugar central para a circulação de pessoas, entrada e saída de um monte de autoridades e de outras figuras”.

Impossível ser espontâneo

O denunciante alegou que é impossível uma ação daquela magnitude, com aquela extensão e usando um aparato tão complexo, ser levada a cabo por meros bolsonaristas lunáticos, sem auxílio logístico nem know-how militar.

Carro incendiado em posto de Brasília, na noite de 12 de dezembro.

“Meu amigo, quem tem líquido inflamável para atear fogo em vários ônibus em lugares diferentes? Pegue as imagens, aquelas imagens de centenas de botijões de gás fechando uma via… De onde tiraram tanto botijão de gás? Quem botou centenas de botijão de gás e quanto tempo leva isso? Quem fez o transporte dos botijões de gás? O que nós tínhamos ontem? A diplomação do Lula. O fato do dia, no Brasil, e até no noticiário no mundo. Nada é ao acaso. Apenas anote: a cada novo fato de repercussão do governo Lula, ou até mesmo agora, antes da posse, esse tipo de tensão e até de ataques e violência vão acontecer, e essa escalada de violência vai aumentar”, apostou.

Heleno e o terrorismo de Estado

Como ajudante de ordens do general Silvio Frota, ministro do Exército nos anos 1970 e representante da “linha dura” da repressão, responsável por torturas e assassinatos, Augusto Heleno acompanhou de perto os atentados promovidos por militares contrários à reabertura política, como a explosão de bombas em bancas de jornal, culminando no atentado do Riocentro, em 1981, que pretendiam atribuir à esquerda, tática repetida hoje.

A contra-narrativa para despistar a autoria dos atos terroristas, gerando a tão característica “confusão” bolsonarista de fake news e conspirações, tem a marca das táticas militares de desinformação. Pouco após os atos violentos, as versões mais sem sentido já circulavam nas redes, jogando a culpa em “infiltrados” e na “esquerda”.

“O que circula nos grupos da PF e da área de Segurança da Presidência, desde esta manhã, já é um trabalho de inversão da lógica. Já se partiu pra um discurso aberto de que isso é coisa da esquerda, de que foi black bloc, meteram a torcida do Corinthians e a Gleisi Hoffmann (presidente do PT) no meio, e é claro que nada disso é plausível, é apenas uma forma de se espalhar intencionalmente desinformação para confundir e para alimentar as redes bolsonaristas, e isso parte lá de dentro”, encerrou o PF.

Fonte: Revista Fórum (acesse aqui)

Autor: Henrique Rodrigues

Publicado em: 13/12/2022