Atos terroristas no dia da diplomação de Lula

Bolsonaristas tentam invadir PF contra prisão de um golpista, queimam carros e ônibus e provocam destruição em Brasília.

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Cerca de 200 seguidores de Jair Bolsonaro provocaram cenas de violência e destruição na noite de Brasília, após a cerimônia de diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente eleito do Brasil, no dia 12 de dezembro.

Usando como pretexto a prisão de José Acácio Serere Xavante, determinada por Alexandre de Moraes (TSE) a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), bolsonaristas convocaram os atos violentos pelas redes sociais.

Depois de tentar invadir a sede da Polícia Federal, onde o preso estava custodiado, passaram a promover destruição pelas ruas. Apedrejaram e queimaram dezenas de carros e ônibus. Quebraram vidraças de lojas. Espalharam botijões de gás nas ruas. Apedrejaram uma delegacia e depredaram uma viatura. Tentaram empurrar um ônibus em chamas de cima de um viaduto.

Embasamento da prisão

Segundo a PF, Serere Xavante participou de manifestações golpistas em diversos locais da capital federal, como em frente ao Congresso Nacional, no Aeroporto Internacional de Brasília, no Park Shopping, na Esplanada dos Ministérios e em frente ao hotel onde estão hospedados Lula e Alckmin. Com base na investigação, a PGR pediu sua prisão temporária. “A manifestação, em tese, criminosa e antidemocrática, revestiu-se do claro intuito de instigar a população a tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente da República eleitos”, registrou a PGR.

Reação do governo eleito

“O governo federal segue omisso diante dessa situação grave absurda. Nós não temos ainda a caneta na mão, estou falando com Ibaneis [Rocha, governador do DF], Andrei [Passos, futuro diretor da PF], com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, mas o governo federal precisa dar respostas”, afirmou Flávio Dino, futuro ministro da Justiça, segundo reportagem do G1.

Questionado se falou com alguém do governo Bolsonaro, ele disse: “Não falo com golpista”.

Às 23h08, mais de duas horas depois do início dos atos golpistas em Brasília, o ministro da Justiça do governo Bolsonaro, Anderson Torres, escreveu em uma rede social que o Ministério da Justiça, por meio da Polícia Federal, “manteve estreito contato” com a Secretaria de Segurança do DF e com o governo do DF “a fim de conter a violência e restabelecer a ordem”. Ele disse que “tudo será apurado e esclarecido” e que a situação está se normalizando”.

Dois dias antes, Bolsonaro instigou revolta

Dois dias antes da explosão de violência em Brasília, Bolsonaro rompeu 37 dias de silêncio e fez um discurso incitando seus apoiadores a entrarem em ação. “Nada está perdido. O final, somente com a morte. (…) Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês (…) O destino é o povo que tem que tomar”.

Segundo o futuro ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, com esse discurso Bolsonaro se comprometeu caso houvesse atos violentos. “Ele hoje colocou a digital”, afirmou, em entrevista.

Na noite do domingo, véspera da diplomação, espalhou-se nas redes sociais a notícia de que os portões do Palácio do Alvorada estavam abertos para quem quisesse acampar nos seus jardins. “Centenas de bolsonaristas, abrigados perto do QG do Exército, atenderam ao chamado, levando cadeiras e agasalhos. Michelle Bolsonaro, a primeira-dama, mandou alimentá-los com sanduíches e café. Eles passaram toda a segunda-feira à espera de Bolsonaro. E quando ele apareceu, decepcionaram-se com o seu silêncio”, escreve Celese Silveira no Antropofagista. O presidente limitou-se a saudá-los, levantando os braços. Um suposto pastor, ao seu lado, agradeceu “o empenho” de todas as pessoas que têm “orado” em frente a quartéis, e encerrou com uma oração. O gatilho da baderna foi então a prisão de Serere Xavante.

Falso cacique

No dia seguinte, reportagens revelaram que José Acácio Serere Xavante não é “cacique”, como se autodenomina, e sua vida se distanciou das tradições daquele povo. Em 2007 foi preso por tráfico de cocaína, na prisão se converteu ao cristianismo e tornou-se pastor evangélico. A partir de 2020 ganhou notoriedade nas redes sociais bolsonaristas e foi candidato a prefeito de Campinápolis (MT) pelo Patriotas usando na campanha o nome Pastor Serere Xavante.

Líderes do povo xavante afirmam que José Acácio não representa os indígenas da etnia nem suas reivindicações. O apoio de uma minoria a Bolsonaro se deve ao arrendamento de terras a fazendeiros e um desejo por “dinheiro fácil”, afirma Lúcio Xavante, presidente interino da Coordenação Geral Indígena Xavante. “Os financiadores são fazendeiros e empresários, que colocam o indígena na frente para representar essa insatisfação com o resultado das urnas”.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: UOL

Publicado em: 13/12/2022