As conexões brasileiras dos golpistas alemães

Um dos líderes presos por conspiração morou em Santa Catarina e tem empresas no Brasil. Bolsonaro recebeu neonazistas.

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A Alemanha prendeu, no dia 7 de dezembro, 25 pessoas envolvidas em um plano de ataque armado ao Parlamento com a intenção de derrubar o governo e colocar no poder um descendente de uma família real.

O grupo de extrema-direita é simpatizante do Reichsbürger (“cidadãos do império alemão”), movimento que não reconhece a Alemanha moderna como um Estado legítimo. Alguns querem a retomada de uma monarquia, outros são adeptos de ideias nazistas.

No dia seguinte, a polícia alemã anunciou que o número de pessoas ligadas à conspiração chegou a 54, e certamente subiria com o avanço das investigações.

Presença no Brasil

Um dos líderes presos foi Rüdiger von P.. Ex-comandante de um batalhão de paraquedistas e fundador de um Comando de Forças Especiais (KSK), ele teria sido expulso do Exército por comércio ilegal de armas da antiga Alemanha Oriental.

Rüdiger costuma passar parte do seu tempo no Brasil, onde atuou como representante comercial de companhias de energia. Há empresas registradas em seu nome em Santa Catarina. Em 2019, na página de um agitador de ultradireita alemão, alguém se identificando com o nome de Rüdiger von P. deixou uma mensagem pedindo a eliminação de maçons e afirmando que “a verdade só estará acessível à humanidade após a mudança do sistema”. Finalizou desejando “saudações do Brasil”.

Encontros com Bolsonaro

Jair Bolsonaro e sua equipe receberam, ao longo do mandato, membros de grupos da extrema-direita alemã.

Em 2021, dois membros do movimento Querdenken tiveram encontro com o presidente do Brasil e com seu filho Eduardo Bolsonaro. Alguns dos detidos pela conspiração golpista pertencem a esse movimento, que tem laços neonazistas.

Enquanto ministra, Damares Alves concedeu entrevista a uma jornalista ligada ao Querdenken, Vicky Richter, cofundadora de um partido antivacina e negacionista da pandemia, que dissemina ideias conspiratórias nas redes.

Semanas antes, Bolsonaro havia recebido uma deputada da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema-direita também monitorado pela inteligência daquele país.

A deputada Beatrix von Storch e o marido, recebidos por Bolsonaro em julho de 2021.

Entre os detidos, há um membro da AfD. O partido serve de plataforma para a retórica antigovernamental dos extremistas na província da Turíngia e em outras regiões. “A AfD tornou-se cada vez mais radical. O partido espalha essas fantasias de conspiração de derrubar o governo”, disse o secretário do Interior da Turíngia, Georg Maier.

Ameaça real?

“Não dá para supor que um grupo composto por um número de pessoas de dois ou talvez três dígitos tinha condição de realmente desafiar o sistema estatal alemão ou mesmo abalá-lo”, ponderou o chefe do Departamento Federal de Investigações, Holger Münch. “Mas temos aqui uma mistura perigosa de pessoas que seguem convicções irracionais, algumas com muito dinheiro e outras em posse de armas, com um plano. Isso o torna perigoso e é por isso que agora intervimos e colocamos um claro sinal de pare”.

Fonte: DCM (acesse aqui)

Autor: Fernando Miller

Publicado em: 08/12/2022