União de opostos na resistência ao golpe

Sindicalistas, banqueiros, empresários, juristas, professores, políticos e movimentos sociais: a diversidade marcou o 11 de agosto na USP.

“A sociedade unida jamais será vencida”. Em resposta ao grito de ordem proposto por Miguel Torres, da Força Sindical, deram as mãos e levantaram os braços “de Horácio Lafer Piva (Klabin) a Bruna Brelaz (UNE), de Armínio Fraga (Gávea) a Canindé Pegado (UGT), de Neca Setubal (Fundação Tide Setubal) a Beatriz Nascimento (Coalizão Negra), de Josué Gomes (Fiesp) a João Pedro Stédile (MST), de Isaac Sidney (Febraban) a Carlos Gilberto Carlotti (USP).

A jornalista Maria Cristina Fernandes destaca esse momento como uma síntese da diversidade que marcou a leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito, que encheu a Faculdade de Direito da USP e o Largo de São Francisco, em 11 de agosto.

“Aquele foi um ato só de classe média”, disse o ex-ministro da Justiça José Gregori, referindo-se à leitura da carta original que inspirou o manifesto, em 1977. “Hoje é o povo que está aqui”.

“Capital e trabalho estão juntos em defesa da democracia”, reforçou José Carlos Dias, também ex-ministro da Justiça.

“Todos os que estão aqui hoje lutam contra a apatia, o populismo, as ameaças e contra o risco de deixar de lado o melhor de nós mesmos”, discursou Horácio Lafer Piva.

Manuela Moraes, presidente do centro acadêmico 11 de Agosto, preferiu alertar para a fragilização da democracia “da fome e das chacinas”.

O impacto de um evento dessas dimensões, sustentado por um documento com mais de 1 milhão de assinaturas, certamente fortalece as redes e mecanismos de defesa contra a explícita intenção de Bolsonaro e seus militares de golpear a democracia.

“Quando uma causa é ecumênica, apartidária e une patrões e empregados, direita e esquerda, essa causa é forte, enérgica, move um país, move o mundo. O dia 11 tratava-se de democracia, e o Brasil sabe muito bem o que é ditadura e o que é democracia”, escreve Eliane Cantanhêde no Estadão.

Porém ela própria dá o alerta: preparemo-nos porque o golpismo continuará mostrando suas garras, e uma das vias para se concretizar são as urnas. “Bolsonaro recupera pontos nas pesquisas, tem queda de inflação, desemprego, preço de diesel e gasolina, com o início do pagamento do novo Bolsa Família encorpado na marra e um discurso pronto para inverter a realidade: o democrata é ele, o patriota é ele, quem quer eleições limpas é ele, quem salva a economia é ele”.

Em resumo: “a reação até a eleição vai ser implacável, sem limites, sem pudor”.

Fonte: Valor (acesse aqui)

Publicado em: 13/08/2022