Mais de 3.500 militares receberam pagamentos mensais superiores a R$ 100 mil. Alguns contracheques batem R$ 1 milhão.
Entre janeiro e maio de 2022, o maior salário foi pago ao coronel James Magalhães Sato, lotado no Comando do Exército: em abril, ele recebeu R$ 603.398,92 (já descontados Imposto de Renda e Previdência). A remuneração básica do coronel é R$ 22,4 mil, mas, naquele mês, os rendimentos foram aumentados por uma verba de R$ 733,8 mil recebida sob a rubrica de “outras remunerações eventuais”, referentes a “valores decorrentes de atrasos”, sem maiores detalhes.
A mesma justificativa vaga foi usada para explicar o pagamento ao general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, em março: com remuneração básica bruta de R$ 32 mil, ele recebeu R$ 305,4 mil líquidos. Um major-brigadeiro da Aeronáutica sediado em São Paulo levou 405,7 mil líquidos também em março. Outro, que atua na área de ensino da Aeronáutica, ganhou 398,5 mil.
Supersalários também foram pagos nos últimos anos. Em junho de 2021, outro militar da Aeronáutica recebeu R$ 818.902,09 brutos. O general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, obteve rendimentos que somaram R$ 926 mil em dois meses de 2020, no auge da pandemia de Covid-19 – só de férias, recebeu R$ 120 mil. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, viu seus rendimentos chegarem a R$ 731,9 mil, e o ex-ministro de Minas e Energia, general Bento Albuquerque, levou R$ 1 milhão brutos em maio e junho de 2020. Alguns oficiais e pensionistas bateram a marca de R$ 1 milhão em rendimentos em um único mês. O levantamento foi feito pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) (veja a lista completa de beneficiários).
Os supersalários militares só foram possíveis após Jair Bolsonaro realizar mudanças na legislação. Já em 2019, primeiro ano do mandato, o governo apresentou projeto de lei que aumentou os benefícios para as Forças Armadas. A indenização paga aos militares transferidos para a reserva, por exemplo, subiu de quatro para oito vezes o valor do soldo. Somente de 2019 para 2020, o gasto com salários pulou de R$ 75 bilhões para R$ 86 bilhões. Outra mudança, em abril de 2021, alterou as regras do teto do funcionalismo, beneficiando diretamente o próprio Bolsonaro e militares.
Quanto custa a lealdade a um presidente, quando este planeja abertamente um golpe de Estado? Talvez tenhamos parte da resposta no próximo 7 de setembro.
Fonte: Terra (acesse aqui)
Autor: André Shalders e Daniel Weterman
Publicado em: 15/08/2022