“SE AS AUTORIDADES NÃO AGIREM RAPIDAMENTE, A TENDÊNCIA É QUE AS AMEAÇAS CONTINUEM – E ATÉ AUMENTEM DE TAMANHO.”

Guilherme Casarões – Twitter – 09/01/23

Cientista político e professor da FGV/EASP, Guilherme Casarões comenta o 8 de janeiro bolsonarista no dia seguinte aos acontecimentos.

Ataque anunciado

Uma tentativa de depredação física das instituições consideradas “inimigas da nação” já vinha sendo pensada desde, pelo menos, o fatídico 7 de setembro de 2021. Antes dos atentados de domingo, era o mais perto que chegamos de uma ruptura democrática – estimulada, claro, pelo presidente.

O risco de uma “invasão do Capitólio” bolsonarista sempre foi real. Muito me surpreende quem caiu na esparrela de que os piqueniques de porta de quartel eram pacíficos. Os bloqueios das estradas depois da vitória de Lula já eram sinais claros do potencial violento dessa turma.

Bolsonaro, PMs e militares: cúmplices

O silêncio do ex-presidente após a derrota nas urnas estimulou esse tipo de comportamento golpista. Ele autorizou o que aconteceu ontem, seja ao longo de quatro anos de incitação antidemocrática, seja nos dois meses de recusa a aceitar o resultado das eleições. Bolsonaro é cúmplice.

Cúmplices também são as forças de segurança (FFAA, PMs, PRF) que ou fizeram vista grossa ou apoiaram abertamente os movimentos. O estrago de ontem JAMAIS teria acontecido se os golpistas não se sentissem protegidos pela PM e pelos militares.

Havia oficiais do Exército fazendo a segurança do Planalto, o que não impediu que os golpistas entrassem, saqueassem e depredassem. Se Lula estivesse lá, poderiam tê-lo matado.

Ameaça crescente

Paradoxalmente, para os bolsonaristas delirantes, uma ação concertada entre Xandão, Lula e Flávio Dino é justamente a confirmação de suas teorias conspiratórias comuno-globalistas.

Se as autoridades não agirem rapidamente, cortando o golpismo pela raiz e encontrando os financiadores (do mundo empresarial) e apoiadores (do mundo político-burocrático), a tendência é que as ameaças continuem – e até aumentem de tamanho.

Existem duas possibilidades plausíveis:

– a de que os atos de ontem fortaleçam os golpistas espalhados pelo país, organizados pelo Whatsapp e empoderados pelo ex-presidente;

– a de que os bolsonaristas radicais se dividam entre os corajosos (que serão presos) e os medrosos.

Objetivos atingidos

O sociólogo Serge Katz, também no Twitter, considera que o bolsonarismo alcançou, com as invasões em Brasília, vários de seus objetivos. Possíveis objetivos:

– criar um estado de caos permanente que impossibilite ou dificulte bastante o trabalho do governo (com as previsíveis reações do mercado);

– desmoralizar as instituições;

– ensaio pra algo maior.

Entre as consequências já visíveis: 1. Criaram um fato político novo e uma nova agenda política para o governo. 2. Paralisaram o governo. Sem esses atos criminosos, o governo estaria trabalhando em outras coisas mais importantes para a população mais vulnerável.

Temos que pensar em benefícios políticos e que, nesta altura, alguém ganhou com isso.

Reação rápida e dura

Novamente Casarões:

“Há bons argumentos para se enquadrar os atos de ontem como terroristas conforme a Lei Antiterrorismo (13.260/2016). O que vimos não foi manifestação de caráter reivindicatório ou social, mas uma orquestração golpista com objetivo claro de ameaçar as instituições e a ordem democrática.

É fundamental que a ação seja rápida e dura contra todos os níveis da articulação golpista: quem invadiu, quem bancou, quem fez vista grossa, quem incitou, seja pelo silêncio conivente, seja pela militância inconsequente na imprensa ou nas redes sociais.

A rápida reação das autoridades estrangeiras é evidência não só de que o Brasil é peça importante no tabuleiro global, mas também de que parceiros não tolerarão ameaças à nossa ordem democrática. O golpismo pode trazer graves consequências geopolíticas e comerciais para nós.

Por 4 anos, o Brasil foi um laboratório de ideologias e táticas extremistas, com anuência governamental, apoio estrangeiro e muito dinheiro privado. Isso tem que acabar.”

Fonte: Twitter (acesse aqui)

Autor: Guilherme Casarões

Publicado em: 09/01/2023