Punidos por mentiras, bolsonaristas vão além

Diante de decisões do TSE contra desinformação, redes e canais dobram a aposta denunciando censura inexistente.

Considero grave a desordem informacional apresentada. Estamos diante de um fenômeno absolutamente novo, da desinformação, que vai além da fake news. O cidadão comum não está preparado para receber esse tipo de desordem informacional”, afirmou o ministro Ricardo Lewandowski, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao aprovar a retirada do ar de um vídeo da produtora Brasil Paralelo que associava Lula à corrupção.

Ele foi acompanhado por Alexandre de Moraes, presidente do TSE, e pelos ministros Benedito Gonçalves (corregedor-geral da Justiça Eleitoral) e Cármen Lúcia. Essa tem sido a composição do grupo que entende que o tribunal deve ser mais duro no combate às fake news.

“O TSE tomou uma série de medidas para tentar controlar a difusão de desinformação no segundo turno. O bolsonarismo reagiu acusando-o de parcialidade e ampliando os ataques à Justiça Eleitoral — usando até mais desinformação”, escreve Pablo Ortellado.

Desinformação punida

Em uma semana, a Corte tomou várias medidas para punir a onda de desinformação:

1) Suspendeu a monetização de quatro grandes canais bolsonaristas no YouTube — Foco do Brasil, Folha Política, Brasil Paralelo e Dr. News;

2) Impediu que essas empresas impulsionem conteúdos sobre Lula ou Bolsonaro nas mídias sociais (havia provas de ilegalidade e abuso de poder econômico nessas ações);

3) Determinou o adiamento para depois da eleição do lançamento de um documentário da Brasil Paralelo sobre a facada em Bolsonaro.

4) Deu direito de resposta a Lula na Jovem Pan para reparar declarações distorcidas e inverídicas. Concessão pública, a emissora deve seguir as regras eleitorais de equilíbrio na cobertura jornalística, mas age como um panfleto bolsonarista descarado;

5) Deu direitos de resposta a ataques nas campanhas dos dois lados. Com a decisão, Lula teria 170 inserções a mais na TV, na última semana antes do pleito. Bolsonaro recorreu.

Reação bolsonarista

Os bolsonaristas reagiram alegando parcialidade do TSE e passaram a espalhar uma incrível avalanche de mentiras.

O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, alcançou mais de 5 milhões de visualizações com um vídeo dizendo que fora obrigado pelo TSE a se retratar de declarações contra Lula. Só que essa decisão não existe.

A Jovem Pan passou a noticiar repetidamente a decisão do TSE, chamando-a de censura e repetindo os argumentos vetados. “Uma lista elaborada pelo departamento jurídico da emissora com palavras a ser evitadas pelos apresentadores e comentaristas começou a circular em grupos de WhatsApp como se fossem palavras censuradas pelo TSE”. O programa Pânico fez uma encenação com um homem de terno no estúdio, dando a entender que era um censor do TSE.

A agência de verificação Aos Fatos identificou uma ação coordenada dos bolsonaristas para difundir no Twitter o texto “comentário removido pelo Tribunal Superior Eleitoral”, como se o TSE tivesse determinado a exclusão de conteúdos. “Os bolsonaristas estão inventando fatos para dar a impressão de que são censurados em toda parte pelo TSE”.

Fermento para o golpismo

Conclui Ortellado: “A estratégia é muito preocupante porque os bolsonaristas dobram a aposta quando suas mentiras são punidas pelo TSE. Quando são condenados por mentir contra Lula, respondem mentindo contra a própria Justiça Eleitoral. Além da insubordinação à Justiça, essa estratégia mostra que os reveses no TSE serão usados para mobilizar a militância e ganhar votos, fazendo, da punição, recompensa.

Se Bolsonaro perder, ela sugere também que, além de fraude nas urnas, os bolsonaristas alegarão que perderam no tapetão, com a Justiça Eleitoral favorecendo o candidato do PT”.

Fonte: O Globo (acesse aqui)

Autor: Pablo Ortellado

Publicado em: 22/10/2022