Jamie Raskin – Agência Pública – 22/09/22
Membro da comissão parlamentar que investiga a tentativa de subversão das eleições americanas em 2020 e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, o deputado Jamie Raskin encabeça iniciativas para que os Estados Unidos colaborem com a manutenção da democracia brasileira em resistência a qualquer tentativa de golpe. Entre elas uma carta, assinada por 38 congressistas, para o presidente Joe Biden, cobrando um posicionamento claro de seu governo para a contenção dos golpismo no Brasil.
Raskin deu entrevista exclusiva para a Agência Pública. Alguns trechos:
Cerco às democracias
Estamos vendo instituições democráticas sob cerco em todo o mundo. E também estamos vendo fortes conexões globais entre diferentes movimentos autoritários e autocráticos. Então a Comissão está tentando compreender a magnitude total das ameaças que estão se abatendo sobre a democracia americana. E há uma dimensão global para essa ameaça, assim como há uma dimensão global para ameaças às instituições democráticas em outros países. Vemos recentemente reportagens sobre os gastos muito pesados de Vladimir Putin para influenciar eleições e campanhas eleitorais em outros países. Como membro individual da comissão, certamente estou investigando os laços entre o regime de Trump e o movimento de Trump com Putin e Orbán e Bolsonaro e outros políticos autocráticos de ultradireita ao redor do mundo. (…) Acho que há uma luta muito poderosa ocorrendo entre as forças democráticas dentro de cada país e as forças do autoritarismo. Isso está acontecendo dentro de cada sociedade e também em nível global.
Carta a Biden
Nós redigimos uma carta ao governo Biden, junto com o senador Bernie Sanders e outros senadores, dizendo que precisamos estar preparados para agir de forma agressiva em caso de provocações ao estilo Trump contra instituições democráticas e as eleições no Brasil. Essa carta descreve o número de medidas que propomos que o governo tome para fortalecer a democracia brasileira, por exemplo, a revisão do status do Brasil como parceiro da Otan, assim como a perda do apoio dos EUA à adesão do Brasil à OCDE, assim como revisão de futuros acordos bilaterais de defesa e segurança.
Como evitar o golpe
Espero que o povo do Brasil possa aprender com o exemplo do que aconteceu conosco. É importante neutralizar a enxurrada de mentiras o mais rápido possível, com o máximo de verdade possível. Então, espalhar a verdade, garantir a integridade física do processo eleitoral e mobilizar ao máximo advogados, juízes e tribunais para estarem prontos para defender a integridade dos resultados eleitorais. Bolsonaro continua fazendo movimentos em direção a uma Grande Mentira [referência às alegações de Trump sobre fraude em 2020, chamadas de “The Big Lie“] e esforços para minar o processo eleitoral. Toda a sua campanha precisa ser exposta ao público o mais rápido possível. (…) As instituições democráticas são frágeis. E os autocratas e ditadores sabem disso, e tentam derrubar as instituições democráticas. Mas a vontade e o espírito do povo nas sociedades democráticas são muito fortes. E os povos democráticos do mundo não querem entregar nossas Constituições e nossas eleições democráticas. Eu sei que o povo do Brasil é um povo muito forte e resiliente, e tenho toda a confiança de que eles permanecerão fortes apoiando o processo democrático.
Redes sociais e desinformação
As empresas americanas de mídia social agiram com muita irresponsabilidade quando se trata de permitir mentiras sobre eleições e propaganda de fake news. Por uma questão do direito americano e políticas públicas, nós ainda não agimos para neutralizar a disseminação de propaganda eleitoral e desinformação por meio de corporações de mídia social americanas. Essa é uma das coisas que espero que o comitê especial de 6 de janeiro aborde. Espero que o comitê trate da combinação de propaganda antidemocrática de inspiração russa e a mídia social americana.
Fonte: Agência Pública (acesse aqui)
Autor: Natalia Viana
Publicado em: 22/09/2022