Michel Gherman – UOL – 12/11/22
Nos últimos quatro anos, o crescimento de casos de neonazismo no Brasil foi da ordem de 400%. Não é acaso que este período coincida com a eleição e o mandato de Jair Bolsonaro como presidente da República.
“O nazismo é uma estética e Bolsonaro está nos avisando quem ele é e o que defende”, resume Michel Gherman, professor da UFRJ e pesquisador do centro de estudos do anti-semitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém.
“A perspectiva militarizada da sociedade, que Bolsonaro desde sempre prega, foi amplamente aceita como candidatável por todos os que fizeram uma equivalência entre ele e Haddad. Gherman acredita que o ambiente neonazista produzido por Bolsonaro não vai acabar com a saída dele do poder e que é hora de desmilitarizarmos os espíritos”, escreve Milly Lacombe, no UOL.
Polícia e educação
Em entrevista com o economista Eduardo Moreira e a jornalista Cristina Serra no Canal ICL, Michel Gherman defende que o processo de desnazificação no Brasil precisa mobilizar duas vertentes de atuação: polícia e educação.
Polícia na repressão imediata a qualquer movimento de cunho neonazista. Educação para que isso nunca volte a acontecer.
“Mas que educação? Antes de mais nada, entender quem inventou a ideia de que petistas são os inimigos. De onde veio isso, quem nos meios de comunicação segue reproduzindo o conceito e a quem essa ideia serve? Em seguida, é preciso entender que houve uma falência do ensino do Holocausto no Brasil”.
“Não foram monstros que mandaram pessoas para as câmaras de gás. Foi gente como a gente. Sua tia do Zap. Homens que chegavam em casa e beijavam seus filhos e faziam carinho na mulher”.
“Não importa tanto 1941. Importa, sim, 1933: como uma sociedade inteira se deixou levar?. (…) O nazismo é produto de um regime político eleito e que avançou pela indiferença daqueles que acreditavam que era preciso romper com a ordem estabelecida, lutar contra a corrupção, melhorar a economia. Se você não entende o nazismo de 1933 você não entende bolsonarismo”, diz Gherman.
Não se conversa com fascista
“Se o uso comparativo do Holocausto está interditado, o da escravidão também deveria estar. Os estudos deveriam ensinar que não se senta à mesa com fascista. Não se entrevista fascista. Não se dialoga com fascista. Não se promove fascista nem sob a justificativa de estar fazendo jornalismo”.
“Só existe uma forma de se relacionar com fascistas: o combate. E aqui é importante apontar todos aqueles que abraçaram taticamente o nazismo e, até hoje, repetem que entre Lula e Bolsonaro não sabem o que fazer.”
“Não fizemos isso quando havia tempo e agora estamos diante de explícitas manifestações neonazistas feitas à luz do dia em nossas ruas e praças. Se havia alguma dúvida sobre qual era a base de apoio de Bolsonaro, agora já não há mais: a base de apoio de Bolsonaro é neonazista.”
Tesão pela morte
“Bolsonaro é o cara que entrava no porão para limpar depois da tortura. Bolsonaro não é o Ustra, o cara que torturava. Ele é o cara que tira os corpos depois que Ustra sai do porão; ele limpa o porão. E ele foi escolhido [como liderança] justamente por ser uma figura do porão. O tesão do Bolsonaro é a morte”.
“Bolsonaro transforma o porão em vitrine. Isso é novo”, diz Gherman. “Colocar o contador de corpos como liderança é novo”.
Conclui Milly Lacombe: “É isso que precisamos, de imediato, estudar, compartilhar, reprimir, julgar, condenar. Nunca mais”.
Fonte: UOL (acesse aqui)
Autor: Milly Lacombe
Publicado em: 12/11/2022