Embora mais da metade tenha alguma desconfiança das urnas, especialistas não acreditam que PMs embarcariam em ruptura institucional.
Reportagem da agência Alma Preta aborda a proximidade dos policiais com o bolsonarismo e o risco de adesão à insurreição armada em caso de derrota eleitoral.
Base política
“Pela primeira vez desde a redemocratização, o poder executivo nacional é chefiado por alguém com trajetória militar. Bolsonaro, contudo, não chegou ao cargo sozinho, com a nomeação recorde de militares para cargos públicos. (…) Foram 6.175 militares indicados para ocupar cargos nos ministérios em 2020, contra 2.765 do último ano do governo Michel Temer, em 2018, e 3.500 do primeiro ano da gestão Bolsonaro, em 2019”.
Na Câmara dos Deputados, a bancada de militares e policiais saltou de 4 representantes, em 2010, para 42 em 2018. Toda a trajetória política dos Bolsonaro se construiu com discurso simpático às forças de segurança. Flávio Bolsonaro, o filho mais velho, aprovou 495 moções e entregou 32 medalhas a agentes de segurança e militares enquanto deputado estadual no Rio de Janeiro. Em 2019, a reforma da Previdência concedeu benefícios a PMs, bombeiros e militares. Em 2022, Bolsonaro concedeu indulto a Daniel Silveira, ex-policial militar e deputado federal que teve pedido de prisão expedido pelo ministro do STF Alexandre de Moraes depois de ameaçar juízes da Corte.
Por outro lado, nos últimos anos começa a crescer a representação política de policiais progressistas e antifascistas, ainda que timidamente. Candidato ao governo do Espírito Santo pelo PSTU, Capitão Vinicius Sousa considera que a esquerda se afastou da área da segurança pública, o que foi um erro estratégico. “Nós tínhamos as esquerdas organizadas nos quartéis, mas após o período ditatorial, que foi sanguinário para os militares de esquerda, para os policiais de um modo geral, não foi refeito, não foi restabelecido o diálogo”.
Haveria apoio para um golpe?
“Pesquisa apresentada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostra que apenas 39,6% dos policiais entrevistados concordam que o sistema eleitoral do Brasil garante que os resultados reflitam a vontade do povo.
Coordenador de Projetos do FBSP, David Marques recebe o resultado com otimismo: “Eu esperaria um apoio maior. A pesquisa traz que esse apoio não é tão grande assim. Existe uma diferença entre ser conservador e apoiar golpe”.
Confrontados com a afirmação de que o vencedor das eleições deverá ser empossado no dia 1º de janeiro de 2023, 80,9% dos profissionais de segurança concordam com esse pressuposto da democracia.
“Embora existam possibilidades de movimentos de ruptura, a pesquisa mostra que essa não é a maioria dos policiais. Institucionalmente também não acho que essa ideia se reverbera. Na polícia militar, onde há uma hierarquia mais rígida, não acho que o posicionamento de indivíduos ou grupos se torne algo institucional”, explica David Marques.
“Em caso de uma tentativa de ruptura institucional sempre há aqueles que vão se sentir contemplados e podem achar que vão ter algum tipo de protagonismo. Existem profissionais tão alinhados que poderão sim ser cooptados em ações individuais e não institucionais. Porém eu não acredito numa adesão maciça”, concorda um policial antifascista, sob anonimato.
Glauco Carvalho, coronel da reserva da Polícia Militar de SP, lembra que a maioria dos governadores, que chefiam as PMs, ou são de oposição a Bolsonaro ou descartam golpe. Mas ressalta a possibilidade de civis tentarem algo: “Eu acho possível um grupo de civis entrar num circuito semelhante ao que ocorreu nos EUA com a derrota do Trump”.
“A possibilidade das polícias militares como instituição participar de qualquer coisa nesse sentido é zero”, reforça Coronel Camilo, secretário-executivo da Polícia Militar e ex-deputado estadual em SP.
José Vicente da Silva, coronel da reserva da PM-SP, lembra que os policiais também têm medo de perder o emprego. Atentar contra à democracia envolveria um risco muito alto.
Fonte: Alma Preta (acesse aqui)
Autor: Pedro Borges e Travis Waldron
Publicado em: 28/09/2022