Pablo Ortellado – O Globo – 10/09/22
Já está comprovado por pesquisa que a campanha bolsonarista tem investido, nos grupos de WhatsApp, em espalhar a narrativa de fraude nas urnas. Os objetivos dessa estratégia, porém, podem ir além das consequências esperadas. Não faltam, entre os especialistas, alertas de que uma massa radicalizada (e armada) desconfiando da lisura das eleições pode gerar reações violentas, em turbulências de dimensões imprevisíveis, com o risco de colocar os Poderes, e as Forças Armadas, em situação de conflito direto.
A coluna de Pablo Ortellado, em O Globo, levanta outros possíveis efeitos dessa campanha de desinformação:
Movimento “já ganhou” com sinal invertido – “Ao gerar descrédito nos institutos, sugerindo que Bolsonaro vencerá, o bolsonarismo tenta evitar um fenômeno conhecido: a tendência de alguns eleitores de votar no favorito. Se conseguir convencer parte do público de que as pesquisas não valem e de que devem prevalecer as fotos de multidões mobilizadas, pode ser que esse empurrão rumo ao favorito vá para Bolsonaro, e não para Lula.”
Bolsonaro subestimado nas pesquisas – “Se uma parcela significativa do eleitorado bolsonarista adquirir aversão aos institutos de pesquisa e deixar de responder à abordagem dos entrevistadores, pode ser que os bolsonaristas fiquem sub-representados na amostra dos institutos. Essa é uma das explicações para a falha de alguns institutos de pesquisa americanos que subestimaram o voto em Donald Trump nas últimas eleições presidenciais nos EUA. O mesmo pode acontecer aqui”.
Assim se cumpriria o que ele chama de profecia autorrealizável: as pesquisas ficarão distantes do que se verá nas urnas, alimentando simultaneamente as duas teorias golpistas: pesquisas não são confiáveis e há fraude nas urnas.
Fonte: O Globo (acesse aqui)
Autor: Pablo Ortellado
Publicado em: 10/09/2022