“O RACIOCÍNIO DO PRESIDENTE É UM SINAL VERDE PARA A JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS E O ARMAMENTISMO. TUDO ISSO ESTÁ NO CERNE DO PENSAMENTO DA NOVA EXTREMA-DIREITA MUNDIAL, QUE QUER ACABAR COM A DEMOCRACIA LIBERAL.”

Alberto Bombig – UOL – 05/09/22

“A menos de um mês do primeiro turno, Jair Bolsonaro (PL) adotou em campanha um discurso que, ao fim e ao cabo, embute um desprezo pela lei e por todas as métricas do convívio civilizado”.

O jornalista Alberto Bombig destrincha com precisão o sentido de um discurso recente do presidente, que resume seu pensamento e toda a sua trajetória política: na lei da selva, onde é cada um por si e prevalecem a força e a brutalidade, a democracia é um estorvo a ser eliminado.

“Uma vez, na minha campanha, andando pelo Brasil, botei umas senhoras, e falei o seguinte: ‘Vamos supor que está sozinha, à noite, em estrada, e fura o pneu. E percebe que está chegando gente que pode causar algum problema. Preferia sacar da bolsa a Lei Maria da Penha ou uma pistola?’”, perguntou, para uma plateia de mulheres em Novo Hamburgo (RS), no dia 3 de setembro.

Comenta o colunista: “Ora, é possível construir raciocínio semelhante para qualquer situação que envolva a vida em sociedade. Ao sofrer uma ofensa, você prefere um processo de reparação judicial ou contratar uma milícia para espancar adversários? Ao não receber o aluguel de uma casa, o proprietário deve despejar o inquilino à força ou recorrer à lei do inquilinato? E, se o proprietário tentar aumentar o aluguel acima dos índices oficiais, o inquilino não paga e puxa a arma ou reclama na Justiça?”.

É deste mesmo caldo de cultura que nasce o bordão “Bandido com é bandido morto”. “Em linhas gerais, o raciocínio do presidente é o primitivo ‘quem pode mais, chora menos’. (…) A declaração mostra um candidato para quem a lei nada vale. A convivência civilizada é baseada em regras comuns e aplicáveis a todos, igualmente. Bolsonaro propagandeia a força e a violência”.

Quando um candidato à Presidência representa tamanha afronta à democracia, as eleições ganham outra dimensão. “O que está em jogo neste momento de grande tensão na eleição brasileira vai além de projetos políticos e de candidaturas. Trata-se, principalmente, de uma dicotomia entre a arma e a lei. O voto e os extremistas na rua. O debate e a milícia digital”.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: Alberto Bombig

Publicado em: 05/09/2022