Conrado Hübner Mendes – Folha de S. Paulo – 02/11/22
“A humilhante derrota eleitoral de Bolsonaro é passo modesto diante do desafio que colocou à democracia. O líder do maior programa de delinquência política da história brasileira ganhará se sair juridicamente impune (e elegível) e politicamente vivo. E se o bolsonarismo, fenômeno que transcende Bolsonaro, tornar-se socialmente normalizado e aceitável. São múltiplas as frentes de defesa da democracia que a figura derrotada ajuda a iluminar”.
Impunidade perigosa
“Diante da urgência da responsabilização jurídica de Bolsonaro e seus agentes, já se começam a ouvir ecos da perversa tradição brasileira da ‘pacificação’, que de paz nunca trouxe muito. Produziu, sim, pactos de amnésia, anistias assimétricas, acordos de cúpula empurrados a fórceps às maiores vítimas da violência”.
“A anistia a agentes do Estado é uma espécie de cheque pré-datado para nova conflagração. O apelo à pacificação, quando o conflito se dá entre autor e vítima de crime, disfarça irresponsabilidade e premia o criminoso. O conflito suprimido permanece latente e à espera da ocasião para nova insurgência. A impunidade de Bolsonaro não só permitirá que ele se reeleja mais adiante, como fará brotar clones tão ou mais perigosos”.
“Para desbolsonarizar o futuro é indispensável reparar o passado e não subestimar a ameaça do presente.”
Fonte: Folha de SP (acesse aqui)
Autor: Conrado Hübner Mendes
Publicado em: 02/11/2022