Militares vazam relatório sobre adesão a Bolsonaro

Estudo interno indicaria o potencial apoio de oficiais a um golpe. Especialista acredita que documento é forjado e tem intenção política.

O portal Brasil 247 divulgou documento, obtido com sigilo de fonte, sobre o grau de apoio a Bolsonaro e suas pretensões golpistas entre membros das Forças Armadas. O surpreendente, no caso, é ser um estudo interno, ou seja, produzido pelos próprios militares.

“Os comandos da Marinha e da Aeronáutica demonstraram ter um nível de alta adesão ao questionamento das urnas e aos posicionamentos golpistas exibidos por Bolsonaro”, escreve a jornalista Denise Assis. Essa análise de risco, feita por uma “consultoria”, teria como objetivo “acalmar os quadros médios, como majores e tenentes-coronéis, que demonstram tendência mais golpista”.

O mapeamento também avalia o “bolsonarismo” de atores-chave do Executivo, Legislativo, Judiciário, forças de segurança e Ministério Público nos estados. A jornalista lembra que o documento “fere frontalmente o estatuto das FAs, onde reza não ser função de nenhum militar, não importando a patente, se imiscuir na vida político/eleitoral do país”. E o texto fala em “dar prosseguimento”, o que significaria que esse tipo de aferição já vem sendo feita.

Enquanto os comandantes da Marinha (Almir Garnier Santos) e da Aeronáutica (Carlos de Almeida Baptista Jr.) teriam demonstrado “grau de apoio ALTO aos questionamentos à integridade do sistema eleitoral e de alinhamento ao bolsonarismo”, os generais do Alto Comando do Exército receberam “rating de risco BAIXO”.

Para Marcelo Pimentel, documento é falso

Em sua conta no Twitter, Marcelo Pimentel Jorge de Souza, coronel da reserva e ex-chefe do Estado Maior da 7ª Região do Exército, considera que o “vazamento” seria uma estratégia das Forças Armadas para se desvincularem de Bolsonaro e já esboçarem um reposicionamento dos “não bolsonaristas” em eventual novo governo.

“Isto aqui tem cheiro, cor, gosto e forma de uma típica ‘operação de informação/inteligência’. Um documento desse não “vaza”! Se virou público, foi ‘vazado’ de propósito. Ainda mais para um site tido por ‘esquerda’ e ‘petista’”, escreveu.

Entre as finalidades de tal estratégia, ele aponta:

  • Reforçar a narrativa dominante do “Bolsonaro golpista”;
  • Condicionar a escolha dos próximos comandantes das Forças;
  • Preparar terreno para generais “não bolsonaristas” evitarem o “golpe de Bolsonaro” em caso de derrota e garantir a posse de Lula;
  • Reforçar o discurso de q é necessário “mexer no currículo das academias” e “nas promoções a general” para “evitar o bolsonarismo” e gerar caldo de cultura para posterior vitimização do Alto Comando se o PT fizer a besteira de cair na isca e “interferir”.

Segundo Marcelo Pimentel, não há alas nem bolsonarismo no Exército. “O que há é ampla e profunda politização – indevida, anacrônica, anti-histórica, insensata, impropria e, às vezes, ilegal – que vem sendo promovida pelo Partido Militar desde que a geração AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) anos 70 chegou ao Alto Comando”.

Não é Bolsonaro que usa as Forças Armadas, mas o contrário: ele foi o instrumento pelo qual os militares conseguiram voltar ao poder.

E conclui: “Uma prova da falsidade do documento é tão flagrante que chega a ‘doer’! Se fosse ‘documento interno das Forças Armadas’, os comandantes iriam se deixar rotular como ‘risco alto de bolsonarismo’?”.

Fonte: Brasil 247 (acesse aqui)

Autor: Denise Assis

Publicado em: 06/09/2022