Medo da violência pode aumentar abstenções

Pesquisas mostram que o terror bolsonarista pode afastar das urnas eleitores de Lula. Mulheres, pretos e pobres são os que mais temem sofrer agressões por motivos políticos.

A escalada de violência política bolsonarista às vésperas da eleição instalou no país um clima de tensão que intimida sobretudo os mais vulneráveis.

Cerca de 67,5% dos eleitores têm medo de serem agredidos fisicamente por sua escolha política ou partidária, segundo pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Raps ao Datafolha. “O percentual é mais elevado entre mulheres (71,8%) do que entre homens (62,7%), entre eleitores das classes D/E (71,5%) do que entre aqueles da classe A (54,5%), e entre pretos (73%) do que entre brancos (61,6%)”, detalha Samira Bueno, socióloga e diretora-executiva do Fórum, na Piauí. Outra sondagem do Datafolha revela que 40% dos brasileiros acreditam ser grande a possibilidade de episódios de violência política no dia da eleição, e 9% admitem deixar de votar em razão disso. A percepção é reforçada pelos dados da pesquisa A cara da Democracia, do Instituto da Democracia: 54% da população acredita ser possível uma onda de violência política caso Lula vença no primeiro turno.  

A clivagem social provavelmente será determinante no resultado da eleição, pois segundo as pesquisas Lula lidera apenas no segmento até 2 salários mínimos, que pode chegar a 50% da população, com 33 pontos de vantagem, ficando atrás de Bolsonaro em todos os outros extratos de renda. Assim, uma alta abstenção entre os mais pobres – aqueles mais ameaçados pela violência política – aumenta as chances de reeleição, ou ao menos de segundo turno.

Ao instaurar o clima de medo Bolsonaro aposta na abstenção e nas chances de levar a decisão para uma ainda mais tensa segunda votação, em 30 de outubro: ganharia tempo para fortalecer suas conspirações de fraude nas urnas. 

“Essa retórica da violência tem efeitos práticos e o presidente sabe disso. Quando o filho Zero Três conclama os seguidores armados do pai a serem voluntários da campanha, ou o próprio Bolsonaro afirma que o ‘povo armado jamais será escravizado’, a ameaça nada velada está feita. Ele mobiliza seus asseclas e aumenta seu capital político para uma negociação que lhe seja benéfica caso perca as eleições e, consequentemente, o foro privilegiado. (…) Exílio ou anistia parecem ser a única solução possível para salvar Bolsonaro de processos na Justiça, me disse esta semana o professor da FGV José Henrique Bortoluci, o que eventualmente seria viabilizado com sua minoria violenta e armada nas ruas promovendo o caos e a instabilidade”, escreve Samira Bueno. 

O maior risco à democracia a uma semana das eleições, portanto, é a violência inibir o direito da maioria fazer valer sua vontade soberana. “A tragédia de 2 de outubro de 2022 pode não se traduzir em sangue nas calçadas, mas em milhões de eleitores presos dentro de suas casas por medo de manifestarem aquele que é o direito mais básico e fundamental da nossa democracia, o direito ao voto”.

Fonte: Piauí (acesse aqui)

Autor: Samira Bueno

Publicado em: 23/09/2022