Golpistas fecham estradas por intervenção militar

Com a complacência da PRF, manifestantes são insuflados a escalar paralisação até justificar ação das Forças. STF manda desobstruir.

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Após mais de 24 horas de silêncio de Jair Bolsonaro, o não reconhecimento da derrota eleitoral alimenta de forma orquestrada as redes e grupos bolsonaristas rumo a uma rápida escalada golpista.

No dia seguinte à eleições, manifestantes já bloqueavam 463 rodovias em 25 estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, foram interditadas diversas vias e a Marginal do Tietê. Voos foram cancelados no aeroporto de Guarulhos, o maior do país.

O plano consiste em colapsar os transportes nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, chegando ao ápice no dia seguinte, feriado de finados, com a ocupação da Praça dos Três Poderes, em Brasília, e a entrada em cena das Forças Armadas. Estão sendo convocadas reivindicações em frente aos quartéis. Os militares golpistas alegariam estar cumprindo o artigo 142 da Constituição, atuando para restabelecer a lei e a ordem. Para justificar a anulação das eleições e a convocação de novo pleito “em quatro meses”, o argumento seria outro: fraude nas urnas (“comprovada” por suposta auditoria internacional, com prisão dos envolvidos). A ação de Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para evitar que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) impedisse eleitores do Nordeste de votar no segundo turno, também vem sendo usada pelos golpistas como alegação de interferência “criminosa” no processo. No mundo paralelo bolsonarista, o que a PRF pretendia com as operações no dia das eleições era impedir a compra de votos em favor de Lula.

Moraes age, policiais apoiam golpistas

Na noite de segunda-feira, Alexandre de Moraes ordenou que a PRF e polícias militares dos estados desobstruam todas as rodovias bloqueadas. No dia seguinte, o Supremo Tribunal Federal (STF) referendou por unanimidade a decisão.

Circulam nas redes sociais vários registros em vídeo de policiais rodoviários confraternizando com os bolsonaristas e assegurando que eles não serão punidos nem multados. “Estamos com vocês. Nós temos que resistir 72 horas para o presidente poder tomar uma atitude. Por isso que ele não se manifestou até agora”, diz um policial para manifestantes em Rio Claro (SP).

Segundo Moraes, é “inegável” que “a PRF não vem realizando sua tarefa constitucional e legal”. Em caso de descumprimento da decisão, o ministro determinou multa de R$ 100 mil por hora para o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, bolsonarista assumido e ligado a Flávio Bolsonaro.

Na manhã de terça-feira, a PRF comunicou que 192 manifestações tinham sido desfeitas até às 6h. No dia seguinte, 2 de novembro, data prevista para as manifestações nos quartéis, ainda se contavam 156 bloqueios em 15 estados. O maior número de registros é em Santa Catarina, com 35 paralisações. Em 14 estados houve redução dos protestos, mas em dois eles aumentaram: Mato Grosso do Sul e Paraná.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: Gilvan Marques, Thaís Augusto, Giovanna Galvani, Anna Satie, Giuliana Saringer, Mariana Durães e Luana Sampaio

Publicado em: 01/11/2022