Faixas e cartazes revelam estratégias do golpismo

Ataques aos Poderes, pedidos de intervenção militar e alegação de fraude eleitoral comprovam que bolsonaristas vivem realidade paralela.

Repórteres da Agência Pública fotografaram 52 faixas e cartazes nas manifestações do 7 de setembro em Brasília. Destes, 23 (ou 44%) continham mensagem golpistas ou que alegavam fraudes nas eleições.

Na semana que antecedeu os eventos, houve um comando orquestrado em milhares de grupos de WhatsApp bolsonaristas para que se evitassem ataques diretos à democracia e pedidos de golpe: a ordem é questionar a lisura das eleições, que estariam fraudadas por um conluio entre mídia, pesquisas e STF/TSE.

Talvez isso explique a quantidade relativamente pequena de cartazes golpistas. A reportagem presenciou uma briga entre dois bolsonaristas quanto às mensagens exibidas: “Um deles, pró-golpe, foi questionado por outro, que disse que o golpe era uma ‘pauta errada’. A discussão começou com uma faixa que pedia ‘intervenção militar’ e ‘criminalização do comunismo’ e gerou gritaria na manhã de 7 de setembro na Esplanada. ‘É a única pauta! Aqui é limpeza geral!’, gritava o homem que defendia a intervenção das Forças Armadas. Ele acusava o outro, que era contrário ao golpe, de ser ‘petista’”.

Mesmo contra a ordem unida, foram exibidos faixas e cartazes com dizeres como: “Fora Suprema Corte comunista”; “Presidente, acione as Forças Armadas. Faça intervenção democrática”; “Queremos o presidente Bolsonaro no Poder. Intervenção militar no Judiciário, no Legislativo e nova Constituição e a criminalização do comunismo no Brasil. Já!!!”; “PR [presidente], restaure a lei e a ordem no Brasil!”. Cartazes pediam “saneamento” do STF, do TSE e do Congresso, outros defendiam a “demissão” de nove ministros do Supremo (com exceção dos nomeados por Bolsonaro). Várias mensagens vinham acompanhadas de sua tradução em inglês.

Além dos 23 cartazes e faixas antidemocráticos, os manifestantes levaram ao evento pelo menos 11 mensagens contra o STF e seus ministros. O alvo principal foi Alexandre de Moraes (ou “Xandão”). Já os ataques às eleições, atual estratégia prioritária nos grupos bolsonaristas, defendiam “voto auditável” e alegavam que há uma fraude em andamento.

A reportagem registrou os argumentos de vários manifestantes. O advogado João Batista Camargo Filho, que viajou de Uberlândia (MG) a Brasília e empunhava faixa contra o “ativismo judicial”, contesta as pesquisas e acredita que as eleições serão fraudadas: “Qualquer motociata que você vai tem centenas, milhares de pessoas, qualquer lugar que você vai, que o Bolsonaro vai, tem milhões de pessoas apoiando o Bolsonaro. Como é que pode um nove dedos, ladrão, pilantra, chamado Lula, como é que pode esse cara liderar uma corrida presidencial… E onde ele vai ele é ovado, ovado! Leva ovo na cara! Como é que ele pode falar? Isso é a imprensa preparando uma fraude! Esse povo acha que nós somos idiota”.

O professor João Cezar de Castro Rocha, da UERJ, comentou a tática narrativa dos golpistas: “Há uma estratégia que lança mão de um discurso cuja lógica, como toda lógica bolsonarista, é completamente invertida. E sempre a conclusão é a mesma: ‘se há tantas pessoas na rua, como é possível que nas pesquisas o Lula esteja na frente?’ […] Essa estratégia discursiva só tem um objetivo: criar caos e fomentar o golpe”, explicou. “Para alguém afirmar, com convicção, que intervenção militar com Bolsonaro no poder restituiria a liberdade, porque vivemos uma ditadura da toga, é porque a lavagem cerebral foi bem conduzida. É esse o objetivo, é perigosíssimo isso”.

Fonte: Agência Pública (acesse aqui)

Autor: Laura Scofield, Rubens Valente e Yolanda Pires

Publicado em: 09/09/2022