Do segundo turno à diplomação de Lula, um levantamento das principais teses golpistas disseminadas pelo bolsonarismo.
A agência Aos Fatos monitorou as principais falsidades compartilhadas após a vitória de Lula por grupos, páginas e canais bolsonaristas no Telegram, WhatsApp, Facebook, Instagram e YouTube. As linhas desinformativas mais usadas foram:
Semana 1 – O silêncio de Bolsonaro
Imediatamente após o anúncio da vitória de Lula, apoiadores de Bolsonaro reforçaram a teoria de fraude nas urnas, com filmagens enganosas do equipamento de registro do mesário, somas incorretas de percentuais de votação e alegações falsas sobre sumiço de votos. Enquanto isso, o presidente se manteve calado por quase 48 horas, o que alimentou a falsa teoria de que seria preciso esperar 72 horas antes de denunciar fraude eleitoral.
Ainda na primeira semana surge a figura do argentino Fernando Cerimedo, responsável pelo site La Derecha Diario e amigo de Eduardo Bolsonaro. Ele fez uma live no YouTube com o título #BrazilWasStolen (o Brasil foi roubado), alegando, de forma enganosa, que as urnas eletrônicas produzidas antes de 2020 não são passíveis de auditoria. Teve mais de 400 mil visualizações simultâneas.
Semana 2 – Cadê o Lula?
O presidente eleito tirou cinco dias de folga em Porto Seguro (BA) e o período longe dos holofotes alimentou teorias conspiratórias sobre seu possível falecimento. A pergunta “cadê o Lula?” foi um dos assuntos mais comentados no Twitter, e a suposta morte do político figurou no pico de pesquisas do Google.
Com o passar dos dias, a teoria ganhou uma nova camada: o PT teria clonado o presidente eleito ou contratado um sósia – imagens editadas provariam a substituição.
Em paralelo, o Ministério da Defesa divulgou o resultado da auditoria realizada por técnicos das Forças Armadas. O relatório não identificou problemas, mas serviu para manter a base engajada. No dia seguinte, o ministério não descartou a possibilidade de fraude nas urnas.
Semana 3 – O código-fonte
As alegações de fraude nas urnas eletrônicas ganharam tração e passaram a acusar o TSE de ter manipulado o código-fonte em favor de Lula. Paralelamente, o argentino Fernando Cerimedo seguiu com ataques ao processo eleitoral brasileiro. Na teoria da vez, alegou ser possível identificar os nomes e votos de todos os eleitores brasileiros, o que é falso.
Semana 4 – Auditoria do PL
A teoria de fraude nas urnas foi reforçada pela divulgação do relatório do PL, partido de Bolsonaro. O texto repetiu a tese desmentida de Cerimedo e argumentou ainda que quase 60% das urnas eletrônicas não poderiam ser consideradas no resultado final do segundo turno. O presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, pediu a manutenção dos votos apenas dos modelos UE2020, que davam vitória a Bolsonaro por pouco mais de 51% dos votos. A alegação se espalhou nas redes bolsonaristas como prova irrefutável da vitória do atual presidente, o que não procede.
Também começaram a surgir informações falsas afirmando que Lula não poderia ser diplomado por não ter sido absolvido dos processos ao qual foi acusado e que o TRF-1 (Tribunal Regional da 1ª Região) teria apagado processos contra o petista para torná-lo “ficha-limpa”.
Semana 5 – Teorias da antecipação
A diplomação de Lula, que teria como prazo máximo o dia 19 de dezembro, foi antecipada para o dia 12, com o intuito de esfriar os movimentos de contestação do pleito. O universo bolsonarista passou a buscar teorias para justificar a antecipação. A mais popular dizia que o interesse do PT era diplomar Lula antes da entrega do relatório final do PL sobre as urnas, que comprovaria a fraude e tornaria Lula inelegível. Outra notícia falsa foi a de que a diplomação permitira a Lula obter um passaporte diplomático e viajar aos Estados Unidos para não ser preso.
O Senado promoveu, a pedido do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), audiência pública com a presença de desinformadores eleitorais, como Fernando Cerimedo e Carlos Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, responsável pelo relatório do PL. Na sessão, foram repetidas alegações falsas contra o sistema eleitoral.
Semana 6 – “Não desanimem, eles estão agindo“
Ao menos 15 vídeos antigos do presidente Jair Bolsonaro e de exercícios militares passaram a circular fora de contexto, criando uma falsa sensação de que o golpe militar estava em curso. Por exemplo:
- Filmagens de treinamentos ou demonstrações do Exército Brasileiro em Campinas (SP), Niterói (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e Mossoró (RN);
- Discursos de Bolsonaro durante cerimônia de promoção de generais e no Dia do Exército.
Peças desinformativas também fizeram leitura distorcida de publicações do Diário Oficial da União ou de documentos apócrifos atribuídos ao STM (Superior Tribunal Militar) para dar a entender que o Brasil está sob tutela das Forças Armadas ou que Bolsonaro teria sido nomeado presidente interventor pelo STM.
Na noite de 11 de dezembro, mensagens convocaram manifestantes a ocupar o Palácio da Alvorada para um pronunciamento de Bolsonaro. A data chegou e, mais uma vez, ele ofereceu apenas o silêncio.
Correntes afirmam que, com a diplomação de Lula, agora Bolsonaro tem 15 dias para agir “dentro das quatro linhas da Constituição” e investir em uma ação de impugnação para impedir a posse.
Fonte: Aos Fatos (acesse aqui)
Autor: Bianca Bortolon e Milena Mangabeira
Publicado em: 15/12/2022