José Carlos Dias – Folha de S. Paulo – 11/08/22
Histórico defensor dos direitos humanos e da democracia, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias formou-se advogado às vésperas do golpe de 1964, foi preso três vezes pela ditadura e defendeu mais de 500 perseguidos políticos. Foi um dos organizadores do manifesto que, em 1977, a Faculdade de Direito da USP produziu denunciando a repressão. Agora, aos 83 anos, vê-se na situação de voltar a se engajar na defesa da democracia. Ele participou da leitura da carta-manifesto assinada por mais de 1 milhão de brasileiros.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Dias comenta o momento do país e o compara com o que viveu na ditadura.
“Cada vez mais a sociedade está se organizando para dar um basta. Esse presidente é um delinquente. Digo isso com todas as letras. O que esse homem já praticou de crimes é uma coisa extraordinária. Principalmente crimes de responsabilidade. Tanto assim que nós estamos com um processo no Tribunal Penal Internacional, do qual a Comissão Arns é uma das signatárias. Aquela reunião que ele fez com embaixadores, lá está um crime. Ele não se conforma com as urnas eletrônicas porque elas, que o elegeram por várias vezes, vão consagrar a sua derrota. Ele está consciente da derrota.
E é por isso que esse homem… Psicopata, não sei, mas ele não é normal, ele não aceita nem o conselho de seus amigos. Ele nos chama de cara de pau, sem caráter… O que faz contra o Poder Judiciário, os insultos dirigidos aos ministros do STF [Supremo Tribunal Federal], do TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. (…) Temos um presidente que exalta a tortura, que tem como herói o Ustra, então para ele toda a esquerda é bandida”.
Em caso de reeleição de Bolsonaro, José Carlos Dias prevê uma “ditadura pelo voto”: “Se está assim agora, imagine se ele tiver o referendo do voto. O desmonte que ele fez… Vai ser muito pior. Vai se sentir absolutamente fortalecido. Ele vai desmontando tudo. Encheu de militares em volta. A cultura sofreu, os indígenas sofreram. Ele explora os evangélicos, insulta as mulheres. Isso ainda agora. Imagina se ganha a eleição? E tem esse centrão, com o qual há um conluio vergonhoso. O Congresso em grande parte é responsável por isso. Todos os pedidos de impeachment ficam na gaveta”.
“Quando me vejo com 83 anos precisando continuar a lutar, eu digo: ‘É fogo’. Mas é um compromisso que eu tenho. Enquanto eu estiver vivo, eu vou defender os direitos humanos e a democracia”.
Fonte: Folha de SP (acesse aqui)
Autor: Uirá Machado
Publicado em: 11/08/2022