Comissária da ONU vê riscos à democracia no Brasil

Michelle Bachelet condenou ataques de Bolsonaro ao Judiciário e às eleições e alertou para o clima de ódio e violência no país.

Em entrevista coletiva em Genebra, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos alertou para os sinais de ameaça à democracia registrados no Brasil às vésperas das eleições. “O presidente Bolsonaro intensificou seus ataques ao Judiciário e ao sistema de votação eletrônico, inclusive durante uma reunião com embaixadores em julho, que despertou fortes reações”, lembrou Bachelet, que está de saída do cargo após quatro anos de mandato.

“Chefes de Estado devem respeitar outros Poderes, devem respeitar o Poder Judiciário, devem respeitar o Poder Legislativo […] Não se tomam atitudes que possam aumentar a violência ou o ódio contra instituições democráticas”, reforçou a ex-presidente do Chile (2006-2010 e 2014-2018).

A agitação bolsonarista marcada para o dia da Independência é motivo de atenção. “O mais preocupante é que o presidente pediu a seus apoiadores que protestassem contra as instituições judiciais no próximo dia 7 de setembro, data em que o Brasil celebra 200 anos de independência. Isso levou os partidos a adiarem as iniciativas de campanha previstas para esse dia e a deslocá-las para o dia 10, para evitar confrontos”.

A reportagem lembra que nas redes bolsonaristas as convocações para a manifestação incluem a fake news segundo a qual os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin estariam tramando impugnar a chapa de Bolsonaro à reeleição.

A fala de Bachelet deixa evidente como o golpismo do presidente brasileiro está no radar dos democratas do mundo. “Não devemos fazer comentários que possam aumentar a violência ou o ódio contra as instituições democráticas […], não devemos enfraquecê-las com discursos políticos. […] Quando um líder começa a usar uma linguagem que pode ser usada na direção errada, acho que é muito ruim. Líderes precisam garantir que o país possa progredir, onde o diálogo e o respeito pelo outro exista, porque isso é a democracia”.

A alta comissária frisou ainda que o Brasil enfrenta “uma situação muito difícil de direitos humanos” e considerou “preocupantes” os registros de violência política, como o assassinato do petista Marcelo Arruda por um bolsonarista em sua festa de aniversário, e de racismo estrutural persistente, e mencionou ataques contra deputados e candidatos, particularmente os de origem africana, mulheres e da comunidade LGBT.

Fonte: DW Brasil (acesse aqui)

Autor: AF/ Reuters/ Lusa

Publicado em: 25/08/2022