Depois de alimentar suspeitas de fraude, Forças Armadas silenciam sobre o resultado de sua contagem própria. MP pede explicações.
Se Lula tivesse sido eleito no primeiro turno, os militares levariam mais de uma semana para divulgar eventuais discrepâncias no resultado de sua “contagem paralela” de votos?
A pergunta é retórica, pois a esta altura não restam dúvidas da politização da Forças Armadas e do seu papel de cúmplices do presidente Jair Bolsonaro na estratégia de levantar suspeitas sobre o processo eleitoral e desestabilizar a democracia.
Os militares foram a seções de 153 municípios para tirar fotos de cerca de 385 boletins de urna. Prometiam entregar o resultado no mesmo dia. Uma semana após pleito, alegaram que “há vários relatórios sendo preparados sobre o assunto e que nenhum deles está pronto”, segundo Malu Gaspar, em O Globo. Argumentaram que o processo é complexo, pois “se debruçaram sobre todos os cargos em disputa, inclusive os de deputados federais e estaduais, eleitos ou não”.
Dois dias depois, Malu Gaspar atualizou sua apuração: nenhum indício de fraude foi encontrado e por isso o presidente não autorizou a divulgação do resultado. “Ao ser informado das conclusões do trabalho – que avaliou uma amostra de ao menos 385 boletins de urna e um projeto-piloto com uso da biometria para testar 58 aparelhos – o presidente da República disse que os militares deveriam se esforçar mais, porque as informações não batiam com o que ele próprio soube a respeito do assunto”.
Testes do TCU: 100% de aprovação
Na semana anterior às eleições, o Tribunal de Contas da União (TCU) anunciou que realizaria uma auditoria paralela dos votos, para, “em tempo real”, avalizar a lisura do processo. A intenção seria rebater eventuais contestações por parte dos militares, caso Bolsonaro fosse derrotado. Não foram encontradas divergências entre os boletins de urna e o resultado oficial.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o TCU também divulgaram o resultado do teste de integridade com biometria de 2.044 eleitores voluntários, feito nas seções eleitorais – procedimento inédito, proposto pelos militares e acompanhado por equipes das Forças Armadas. “No total, 58 seções participaram do teste-piloto com o envolvimento dos eleitores no processo. Os participantes representam 12,9% dos eleitores que votaram nas seções onde o exame foi feito. Nessas 58 seções eleitorais, não houve nenhuma divergência: 100% de aprovação no teste de integridade com biometria – ou seja, no primeiro turno das eleições de 2022 se repetiu o que ocorreu nas eleições de 2020, 2018, 2016, 2014, 2012, 2010, 2008, 2006, 2004 e 2002. Vinte anos de absoluta lisura das urnas eletrônicas com comprovação imediata pelo teste de integridade”, disse o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, relata reportagem do Estadão.
Além da autoria de 540 urnas “em tempo real”, o TCU requisitou os boletins de “no mínimo” 4.161 urnas utilizadas no primeiro turno das eleições, para averiguação mais ampla, cujo resultado deve sair em novembro.
MP pede explicações
Diante dessa falta de informação, o Ministério Público junto ao TCU decidiu cobrar explicações das Forças Armadas. “Venho propor que seja requisitado ao Ministério da Defesa, com a urgência que o caso requer, cópia do relatório de auditoria ou de documento correlato que revele o resultado da fiscalização daquele órgão acerca do processo eleitoral relativo ao primeiro turno de votação”, escreveu o subprocurador-geral Lucas Furtado, em ofício ao TCU.
Fonte: Estadão (acesse aqui)
Autor: Felipe Frazão e Weslley Galzo
Publicado em: 11/10/2022