“BOLSONARISMO PASSA A MOBILIZAR UM NÚMERO CADA VEZ MENOR DE APOIADORES ENQUANTO AVANÇA NA RADICALIZAÇÃO.”

Isabela Kalil – Estadão – 14/12/22

Qual o efeito dos atos extremistas de 12 de dezembro para o futuro do bolsonarismo?

Isabela Kalil, no Estadão, considera o episódio golpista como mais um passo de um processo de radicalização da extrema-direita no Brasil, em consonância com uma tendência global, que passa pelo uso de estratégias de terrorismo doméstico, a exemplo da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump.

“Patriota” no lugar do “cidadão de bem”

Nos últimos dois anos, bolsonaristas têm realizado exercícios constantes e coordenados de mobilização de insurgência. Em 2018, a campanha foi centrada na figura do “cidadão de bem”, mobilizado, principalmente, pelo discurso anticorrupção. A partir de 2020, o bolsonarismo passou a recrutar o “patriota”, sua versão mais radical e violenta.

Com o apelo crescente para a participação de manifestantes considerados “patriotas”, aqueles considerados “fracos” vão perdendo destaque, relevância e prestígio nos grupos bolsonaristas. Ganham proeminência os que detêm maior habilidade com o uso da força e da violência, seja retórica ou física. E as lideranças passam a ser mais prestigiadas cada vez que avançam no seu “extremismo estratégico” contra as instituições democráticas.

Esses atos buscam instigar o caos como método. É uma forma de gerar situações cada vez mais extremas nas quais os líderes são investigados, presos e se tornam “vítimas” do “sistema”. Com isso, o bolsonarismo ao mesmo tempo que passa a mobilizar um número cada vez menor de apoiadores também avança no seu processo de radicalização.

Maierovitch: “É terrorismo”

Em entrevista para o UOL, o jurista Wálter Maierovitch explica por que considera correto o uso do termo terrorismo para definir os atos bolsonaristas:

“Essas manifestações seguem a matriz terrorista. Manifestações black blocs terminam na ação e no dano causado. Mas esses casos que estamos assistindo seguem a matriz terrorista porque existe uma meta direta – que é criar intranquilidade, incendiar e causar dano – e uma segunda meta indireta, que é impedir a posse do presidente eleito. É atuar antidemocraticamente. Isso se caracteriza em terrorismo”.

Responsabilidade de Bolsonaro

Para Maierovitch, Bolsonaro tenta se isentar da responsabilidade pelos crimes antidemocráticos, mas sua posição não se sustenta.

“Bolsonaro está criando um álibi. Mas esse silêncio é falso. Ele quer criar um muro de proteção, dizer ‘não estava lá, não participei, me mantive em silêncio’. Isso é criar um álibi para excluir a responsabilidade criminal. (…) Ele pode ser responsabilizado. É uma omissão e apoio. O álibi significa estar distante, em outro lugar, mas é falso. Ele participa, porque esse silêncio é negativo, porque ele não reprova”.

Em seu discurso na cerimônia de diplomação do presidente eleito, Alexandre Moraes mencionou que grupos organizados já estão detectados. “Ele detectou nas investigações quais foram os grupos organizados. Quando ele diz que serão responsabilizados, diz que já identificou. Só está esperando Bolsonaro sair do governo. Esses grupos identificados serão responsabilizados”, afirmou Tales Farias, também colunista do UOL. Para Maierovitch, “se ele identificou, está tardando na decretação de prisão preventiva”.

Fonte: Estadão (acesse aqui)

Autor: Isabela Kalil

Publicado em: 14/12/2022