Manuel Domingos Neto – Brasil de Fato – 27/03/22
Historiador, pesquisador da área militar e ex-deputado federal pelo Piauí, Manuel Domingos Neto elenca uma série de argumentos para que o país promova uma reforma jamais enfrentada na atual fase democrática: a das Forças Armadas.
“Hoje, as mudanças no jeito de guerrear, a dinâmica social e o cuidado com a democracia impõem uma reforma militar. Neste mundo conturbado, o Brasil precisa ter como se defender. A reforma militar é necessária porque há generais e soldados em demasia e mal distribuídos no território. A concentração de tropas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul é perdulária e sem sentido. Brasília está repleta de generais”.
A reforma das Forças Armadas é indispensável porque:
- A supremacia da Força Terrestre não bate com uma Defesa Nacional que dissuada estrangeiro hostil. Proteção de imenso território, vasto mar e espaço cibernético não é para Rambos.
- Crianças não devem ser submetidas à formação militar. Estamos no Brasil do século 21, não na Macedônia ou na Esparta de priscas.
- A Constituição determina: “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Por que não há mulheres no topo da hierarquia?
- A esposa do oficial deve poder ter profissão estável e inserção social. A intensa rotatividade nos postos radicaliza a dicotomia civil-militar.
- Deve-se ensejar a ascensão hierárquica de negros e indígenas.
- A honrosa condição de guerreiro deve ser estendida a todos e todas, sem primazia para a descendência de oficiais. Jovens pobres precisam ter direito de chegar ao topo.
- É anacrônica a obrigatoriedade do serviço militar.
- O quartel deve respeitar a esquerda. O pluralismo político fundamenta a República. Diz a Carta: “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política”. O militar pisa na Carta e empobrece a troca de ideias quando repele a esquerda. Como é possível alijar peremptoriamente boa parte da sociedade por prevenção descabida? A coesão dos brasileiros é viga mestra da Defesa Nacional.
- A Carta determina “a dignidade da pessoa humana”. Não há homossexuais assumidos nas Forças Armadas, onde manifestações homofóbicas são comezinhas. A reforma deve permitir que homossexuais saiam do armário sem medo.
- Quando o militar denuncia a “crise moral” e o “esgarçamento do tecido social”, defende de soslaio valores retrógrados. A Carta não faz do militar guardião da moralidade. A reforma deve eliminar o medo das mudanças comportamentais.
- Os escritórios das Forças Armadas nos Estados Unidos e na Europa precisam ser fechados. As corporações têm que parar de dar lucro aos complexos industriais de potências que não querem o bem dos brasileiros.
Encerro dizendo que a reforma permitirá, quem sabe, a superação do distúrbio de personalidade funcional que o Estado impinge ao militar. Poderá perceber, enfim, que o Brasil não é uma dádiva do quartel.
Fonte: Brasil de Fato (acesse aqui)
Autor: Manuel Domingos Neto
Publicado em: 27/03/2023