“A INDICAÇÃO DE MÚCIO PARA O MINISTÉRIO DA DEFESA SERÁ A CONFIRMAÇÃO TÁCITA DE QUE O GOLPE FOI VITORIOSO.”

Luis Nassif – GGN – 29/11/22

O experiente jornalista Luis Nassif dá o mapa da mina deste conturbado período pós-eleições. Esticando a corda, os militares estão prestes a ganhar o jogo: mantêm seu poder de tutela e ameaça à democracia – até a próxima oportunidade de golpe.

Tensão e gatilho

Há um jogo de declarações e insinuações óbvios, visando prolongar o máximo possível os acampamentos em volta dos quartéis e os bloqueios de estradas.

Braga Netto – “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora.” (a militantes em frente ao Planalto)

Hamilton Mourão – “Na data de hoje, em 1935, traidores da Pátria intentaram contra o Estado e o povo brasileiro. A intentona de 27 de novembro foi a primeira punhalada do Movimento Comunista Internacional contra o Brasil. Não seria a última. Eles que venham, não passarão!” (Twitter)

Ciro Nogueira – “Não digam que não avisei.” (Twitter)

A maior parte dos manifestantes acantonados na porta dos quartéis é de familiares de militares. Há também CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) e milícias ligadas ao bolsonarismo, formadas por egressos dos porões da ditadura e aliados históricos de Bolsonaro. Esta semana circulou um manifesto golpista assinado por dezenas de oficiais da reserva.

O que pretendem com isso?

Hipótese 1: Acirram-se os nervos até a posse. Na passagem, há uma explosão de manifestações violentas por todo o país, gerando alguma forma de episódio dramático, que possa ser o gatilho para tirar os militares dos quartéis.

Hipótese 2: Esticar a tensão seria apenas uma maneira manter acesa a chama da campanha, o chamado jus sperniandi. O problema é que toda essa mobilização tem como lema impedir a posse de Lula. E o que acontece se ele enfim assume? Haveria a desmoralização completa das lideranças que estimularam as manifestações. Justamente devido a esse risco, é evidente que alguma coisa séria irá acontecer nesse período, como atentados e aumento da violência difusa.

Negociações para a Defesa

Uma intenção das manifestações é pressionar o novo governo para manter em mãos militares as definições sobre o ministro da Defesa e os comandantes das Forças.

No meio do caminho, entrou o José Múcio Monteiro, ministro do Tribunal de Contas da União, fazendo lobby em favor de Aldo Rebelo. Ainda no governo Dilma, Aldo tornou-se a quinta coluna dos ruralistas e dos militares. (…) O primeiro grande embate nas redes sociais foi após as manifestações de 2013: Aldo não apenas não participou como boicotou a defesa da Copa do Mundo. (…) Hoje em dia, alinha-se com a direita conspiratória das Forças Armadas e dos ruralistas, tendo recebido apoio do general Villas Bôas à sua candidatura ao Senado.

Sendo impossível a indicação de Aldo, o Alto Comando passou a pressionar pelo nome do próprio Múcio Monteiro, egresso da Arena, com boa relação com os militares, mas também com folha de serviços prestados ao governo Lula.

A contrapartida dos militares à indicação de Múcio seria a desmobilização das manifestações na porta dos quartéis. O que revelaria interferência direta do Exército nas manifestações.

Lula não teria se dado conta de que a indicação de Múcio pode ser o primeiro grande desastre da transição. (…) A desmilitarização e profissionalização das Forças Armadas é um dos pontos centrais do grande arco civil em apoio ao seu governo.

O golpe vitorioso

Outra informação alarmante foi sobre possíveis negociações do ministro Gilmar Mendes com Bolsonaro, aconselhando-o a desmobilizar as manifestações em troca de uma postura mais condescendente do Supremo em relação aos seus crimes.

Tenta-se repetir o maior dos erros da redemocratização: a flexibilização da Lei da Anistia para englobar crimes contra a humanidade e a democracia, cometidos por militares.

O pesadelo Bolsonaro foi filho direto do “jeitinho” brasileiro e da submissão do poder civil ao que o jornalista Fábio Vitor batizou de “poder camuflado”. A indicação de Múcio vai manter inalterada essa estrutura de poder. Até que se reúnam condições para o próximo golpe.

A indicação de Múcio para ministro da Defesa será a confirmação tácita de que o golpe foi vitorioso. O general Mourão não poderia ter sido mais claro: “Julgo que seria muito bem visto pelas Forças Armadas. Tenho muito apreço e respeito pelo ministro Múcio, com quem tive ótimo relacionamento quando ele estava no TCU”.

Fonte: GGN (acesse aqui)

Autor: Luis Nassif

Publicado em: 29/11/2022