Demétrio Magnoli – O Globo – 22/08/22
Em sua coluna no jornal O Globo, Magnoli comenta a cisão no liberalismo quando se trata de defender o regime democrático.
Nascido sob governos aristocráticos ou oligárquicos, o liberalismo, para se adaptar à democracia após as guerras do século XX, teve que “admitir” intervenção estatal que garantisse os direitos básicos de cidadania. Mas surgiram correntes que não se constrangeram em abraçar ditaduras, como os Chicago boys de Milton Friedman em seu apoio a Pinochet, no Chile. A união de um de seus pupilos, Paulo Guedes, com Bolsonaro não deixava espaço para dúvida: era o “liberalismo” antidemocrático candidatando-se a destruir a Constituição Cidadã de 1988. E boa parte do empresariado nacional aplaudiu.
Segundo o colunista, ao assinar a carta-manifesto pela democracia, o “núcleo” da elite nacional estaria demarcando o desembarque do projeto autoritário.
Alguns trechos da coluna:
“O liberalismo não precisa de democracia. Nessa disjuntiva encontra-se a raiz da adesão de tantos empresários ao bolsonarismo.”
“Uma corrente de economistas liberais, aferrada ao dogma da absoluta liberdade de mercado, enxergou na democracia liberal um malévolo disfarce do socialismo. Dessa crença nasceu uma atração por regimes autoritários dispostos a conduzir programas de radical liberalização econômica.”
“A dissociação teórica entre as duas esferas propicia um álibi à corrente de liberais que veem na democracia um valor secundário ou, em certos casos, um obstáculo à promoção irrestrita da liberdade de mercado.”
“O manifesto democrático empresarial, firmado por representantes da indústria paulista e de grandes instituições financeiras, assinala uma cisão relevante. O núcleo principal do empresariado está dizendo que não se reconhece no bolsonarismo — no culto ao autoritarismo e nos ataques à democracia conduzidos pela extrema direita. O cristal se quebrou e não pode ser restaurado.”
Fonte: O Globo (acesse aqui)
Autor: Demétrio Magnoli
Publicado em: 22/08/2022