Leonardo Sakamoto – UOL – 03/11/22
“Durante quatro anos, o malabarismo retórico de aliados do presidente tentou vender a falsa ideia de que eram apenas alguns poucos malucos que defendiam ‘intervenção militar’ nas manifestações bolsonaristas. As imagens em frente aos Comandos Militares do Leste e do Sudeste, no Rio e em São Paulo, respectivamente, mostraram que não são. A diferença é que, agora, seguidores radicais de Jair perderam o pudor de assumirem seu golpismo. E, em alguns casos, o seu fascismo.”
“Bolsonaro adubou seu rebanho com uma realidade paralela através de narrativas enviadas por redes sociais e aplicativos de mensagens. Praticamente, proibiu o consumo de informação por outras fontes, o que poderia ter fornecido a eles uma visão mais plural da sociedade em que vivem.”
“Ao mesmo tempo, preparou terreno para insurreição ao vender a seus seguidores mais radicais mentiras como aquelas que contaram que urnas eletrônicas eram fraudadas, pesquisas manipuladas e até inserções de propaganda eleitoral foram roubadas. Ensinou que deveriam aceitar qualquer teoria da conspiração que vá ao encontro das ‘verdades’ que ele fomentou”.
Verdadeira face
“Se o comportamento golpista diante da derrota para Lula é uma demonstração de força da extrema direita, também mostra ao restante da sociedade a verdadeira face desse grupo – que atropelaria a democracia se pudesse e, depois, ainda daria ré para passar por cima dela uma segunda vez.”
“Para muitos brasileiros, o comportamento de mau perdedor tanto do presidente da República (que não teve coragem de reconhecer a derrota) quanto de seus seguidores (que não aceitaram o resultado das urnas) fez com que passassem a ser vistos como “golpistas” e “intolerantes” pela maioria moderada da população.”
Acolher os moderados
“O eleitor de Bolsonaro que não concorda com violência e não deseja quebra institucional vai desempenhar um papel importante a partir do ano que vem. Eles são as pessoas que não votaram em Lula, mas preferem um governo escolhido pelas urnas do que um regime imposto pela força. Não podem ser tratados como golpistas, mas sim como democratas – sob o risco de serem acolhidos pelos golpistas.”
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Fonte: UOL (acesse aqui)
Autor: Leonardo Sakamoto
Publicado em: 03/11/2022