Major da PMDF é preso em 9ª fase da Lesa Pátria

Líder do acampamento em Brasília ensinava táticas de guerrilha e obtinha vantagens financeiras. Veja as fases da Operação.

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Foi preso pela Polícia Federal em 23 de março Cláudio Mendes dos Santos, major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Ele esteve por mais de 60 dias no acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército e foi um dos principais líderes do movimento que levou à invasão dos Poderes em 8 de janeiro. Estava foragido desde então.

As investigações apontam que o policial teria ensinado táticas de guerrilha para os participantes do acampamento. Ele se apresentava como “Major Cláudio Santa Cruz” e se vangloriava por ter sido do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Usava do título para endossar discursos a favor de uma intervenção e era um dos líderes que mais discursavam no palco improvisado montado em um caminhão no QG de Brasília. Chegou a levar o filho de 8 anos para o acampamento. Fontes ouvidas pelo Metrópoles denunciam ainda que o oficial ganhava dinheiro com os atos bolsonaristas.

A prisão aconteceu no âmbito da Operação Lesa Pátria, que investiga crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Fases da Operação

A Operação Lesa Pátria, que investiga a tentativa de golpe de 8 de janeiro, se tornou permanente, com atualizações periódicas quanto ao número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas. Em suas sete primeiras fases, foram cumpridos 29 mandados de prisão preventiva, 3 de prisão temporária e 109 de busca e apreensão.

Na primeira fase, deflagrada em 20 de janeiro, a PF prendeu os bolsonaristas Renan da Silva Sena; Ramiro Alves da Rocha, conhecido como Ramiro dos Caminhoneiros; Soraia Baccioci; Randolfo Antonio Dias; além de uma quinta pessoa, que não teve a identidade nem o local de prisão divulgados.

Na segunda etapa da força-tarefa, no dia 23 de janeiro, policiais prenderam, em Uberlândia (MG), o extremista que aparece em vídeos destruindo, no Palácio do Planalto, um relógio histórico trazido ao Brasil em 1808.

A terceira fase, em 27 de janeiro, prendeu cinco dois golpistas. Léo Índio, sobrinho de Jair Bolsonaro, estava entre os alvos de mandado de busca e apreensão cumpridos no DF e no Rio de Janeiro. Ele participou dos atos terroristas. Entre os presos estavam os mineiros Marcelo Eberle Motta e Eduardo Antunes Barcelos — advogado que trabalha como coordenador da assessoria jurídica da Santa Casa de Misericórdia de Cataguases (MG); e Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, 67 anos, conhecida como Dona Fátima de Tubarão. Em 8 de janeiro, um vídeo em que ela aparece durante a invasão ao Palácio do Planalto viralizou nas redes sociais. “É guerra. Vamos pegar o Xandão agora”, gritou, em referência ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

A quarta fase, em 3 de fevereiro, cumpriu três mandados de prisão preventiva e 14 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e em cinco estados. Um dos presos foi Lucimário Benedito Camargo, conhecido como Mário Furacão, empresário e presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Rio Verde (GO). Em 8 de janeiro, ele gravou vídeos enquanto invadia as sedes dos Três Poderes. Outro preso foi o ex-candidato a deputado estadual de Rondônia William Ferreira da Silva, conhecido como “Homem do Tempo”. Também foram alvos da operação um policial legislativo do Senado e uma advogada. Há indícios de que o servidor tenha armas e outros materiais capazes de comprovar a violação de dever funcional, segundo a PGR, por instigação e facilitação da ação dos criminosos que vandalizaram os prédios dos Três Poderes. O policial legislativo também é investigado por omissão imprópria, uma vez que teria deixado de combater os invasores do Senado, em 8 de janeiro. No caso da advogada, há suspeitas de que ela teria recolhido os aparelhos celulares dos manifestantes para atrapalhar as investigações.

A quinta fase, em 7 de fevereiro, prendeu quatro policiais militares, entre eles o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Naime havia sido exonerado em 10 de janeiro pelo então interventor federal na Segurança Pública do DF, Ricardo Cappelli, junto a outros 12 servidores. Os outros presos na quinta fase foram o capitão Josiel Pereira César – ajudante de ordens do comando-geral da PMDF –, o major Flávio Silvestre de Alencar – investigado por liberar o acesso dos extremistas STF – e o tenente Rafael Pereira Martins.

Na sexta fase, em 14 de fevereiro, a PF cumpriu oito mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão, expedidos pelo STF. As ações ocorreram em Goiás, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Sergipe.

Os três detidos da sétima fase eram moradores de Minas Gerais: Edmar Miguel, conhecido por “Miguel da Laranja”, de Areado; Aline Cristina Monteiro Roque, também de Areado; e Kennedy Alves, de Alpinópolis. Também foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão, em Minas Gerais e no Paraná.

Deflagrada em 17 de março, a oitava fase foi a maior da Operação até então: foram expedidos 32 mandados judiciais de prisão preventiva e 46 de busca e apreensão em nove estados e no Distrito Federal. Dezessete pessoas foram presas, entre elas: Débora Santos, que pichou “Perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao STF; Josafá Ramos, sargento da reserva da PM baiana e ex-vereador; Álvaro Filipe Walter, sócio de um clube de tiro em Minas Gerais; e Dione Folador, coach de investimentos em criptomoedas, com 700 mil seguidores. O youtuber Bismark Fugazza, dono do canal “Hipócritas”, que era considerado foragido, foi detido no Paraguai. O capitão reformado da Marinha Vilmar José Fortuna foi alvo de busca e apreensão. Ele trabalhava como assessor no Ministério da Defesa desde 2013, e foi exonerado.

Paralelamente, a Polícia Federal também investiga possíveis financiadores dos atos golpistas.

294 seguem presos

O STF concluiu a análise das prisões feitas nos dias seguintes aos atos de terrorismo – seja em flagrante, seja nas fases anteriores da operação Lesa Pátria. O ministro Alexandre de Moraes rejeitou os pedidos de liberdade de 86 mulheres e 208 homens que tiveram as condutas consideradas mais graves. Com isso, esses 294 suspeitos foram mantidos em prisão preventiva.

Fonte: Metrópoles (acesse aqui)

Autor: Mirelle Pinheiro e Carlos Carone

Publicado em: 23/03/2023