Aumenta o risco de escoltar ou aderir a atos golpistas. Mas comoção dos subordinados no DF acende novo alerta.
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Em resposta ao complô das forças de segurança do Distrito Federal que resultou no mais grave atentado à democracia brasileira desde o fim da ditadura, a Polícia Federal e os poderes Executivo e Judiciário tomaram medidas também excepcionais.
No próprio domingo do ataque, o presidente Lula decretou intervenção federal na segurança pública do DF. Na sequência, o ministro do STF Alexandre de Moraes afastou do cargo o governador Ibaneis Rocha. Na terça-feira, dia 10, mais providências duras: atendendo a pedido da PF, Moraes decretou a prisão do ex-secretário de Segurança Pública do DF e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, e do ex-comandante da PM local, Fábio Augusto Vieira. Torres viajou para os Estados Unidos às vésperas do atentado. Vieira foi preso.
O complô
Em resumo, deu-se assim a sequência de ações e omissões que permitiu a invasão terrorista:
– No dia 1º, o governador reeleito Ibaneis assume novo mandato e nomeia Anderson Torres secretário de Segurança Pública;
– Torres demite toda a cúpula da Segurança Pública, tira férias e viaja para os Estados Unidos;
– Na véspera dos ataques, Ibaneis rompe acordo feito com o governo federal e permite o acesso dos bolsonaristas à Esplanada dos Ministérios, escoltados pela PM.
(paralelamente, o procurador-geral da República, Augusto Aras, vinha agindo há meses para impedir investigações do Ministério Público sobre as movimentações golpistas que cresciam desde a derrota eleitoral de Bolsonaro)
Recado às PMs
Para Bruno Boghossian, a prisão de um comandante da PM passa um recado claro aos policiais de todo o Brasil: “É provável que nenhum policial bolsonarista tenha deixado de ser bolsonarista desde o último domingo. Mas o custo de sorrir para selfies com criminosos e tomar água de coco enquanto golpistas tentam derrubar o governo ficou mais alto”, escreve o jornalista, na Folha de S. Paulo.
“A decisão de Alexandre de Moraes, na prática, determina que agentes públicos não podem conceder porteira aberta para atos antidemocráticos e oferecer suas tropas para escoltar golpistas.
A bolsonarização desembaraçada das PMs e de outras polícias é uma herança dos últimos quatro anos. Em Brasília, manifestantes tratavam as tropas como aliadas e se orgulhavam do fato de que os agentes facilitavam o caminho dos invasores.
A decisão do STF tem o objetivo de quebrar essa omissão com um apelo à hierarquia”.
Por outro lado, a prisão do comandante da PM do Distrito Federal “gerou comoção” entre policiais de Brasília. Em solidariedade a Vieira, muitos defendem uma “operação padrão” – na prática a redução de ações de segurança pública. O risco é que policiais bolsonaristas insatisfeitos deem início a atos de insubordinação também em outros estados.
Fonte: Vai ter Resistência (acesse aqui)
Autor: Vai ter Resistência
Publicado em: 11/01/2023