Pesquisas criminalizadas e convite a rebelião

Governo manda Polícia Federal e Cade investigarem Datafolha, IPEC e Ipespe. Bolsonaro convoca cerco às seções eleitorais.

À medida que se aproxima o segundo turno, o autoritarismo bolsonarista mostra-se cada vez mais virulento, com ataques inéditos às instituições democráticas.

Em plena campanha eleitoral, e estando o presidente-candidato atrás em todas as pesquisas de intenção de voto, dois órgãos do governo federal foram acionados para criminalizar a atividade dos principais institutos de pesquisa do país.

No dia 13 de setembro, terça-feira, por solicitação do ministro da Justiça, Anderson Torres, a Polícia Federal instaurou inquérito para apurar “condutas que, em tese, caracterizam a prática de crimes perpetrados por alguns institutos”. No mesmo dia, o presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Alexandre Cordeiro, determinou abertura de investigação contra os institutos Datafolha, IPEC (ex-Ibope) e Ipespe. Cordeiro, indicado ao cargo pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou que os institutos podem ter atuado como um cartel para “manipular” as eleições.

Horas depois, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, suspendeu tanto o inquérito da Polícia Federal quanto a apuração do Cade. Em sua decisão, alega que as ações usurpam a competência do TSE de zelar pela lisura do processo eleitoral, e demonstram “indicativos de abuso de poder político e desvio de finalidade”. As investigações do Cade e da PF, acrescenta, “parecem demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral manifestada pelo chefe do Executivo e candidato à reeleição”.

Mesmo sabendo que as investigações não poderiam prosperar, o golpismo bolsonarista avança mais algumas casas ao produzir tais notícias: mobiliza seus seguidores a desconfiar das pesquisas e alimenta a conspiração de que haveria um conluio de agentes – incluindo Alexandre de Moraes e o TSE – tentando impedir as ações de Bolsonaro e sua vitória nas urnas.

Cerco às seções eleitorais

Na mesma terça-feira, a convocação ao golpismo ganhou um reforço do próprio presidente: “No próximo dia 30, de verde e amarelo, vamos votar. E mais do que isso. Vamos permanecer na região da seção eleitoral até a apuração do resultado”, discursou Bolsonaro em Pelotas (RS).

“Foi como se o capitão, farejando o risco de derrota, encomendasse aos seguidores uma resistência semelhante àquela que fizeram os seguidores de Donald Trump, nos Estados Unidos”, comenta Josias de Souza, no UOL.

“Tenho certeza de que o resultado será aquele que esperamos. O outro lado não consegue reunir ninguém. Como pode aquele cara ter votos se o povo não está a seu lado?”, continuou Bolsonaro, ignorando (ou passando recibo sobre) as multidões que Lula tem mobilizado em diversas cidades após o primeiro turno. E, mesmo que as ruas não estivessem cheias, “aquele cara” teve 48,4% dos votos válidos no dia 2 de outubro.

Se o resultado não for o que espera o presidente, o que farão seus seguidores que permanecerem “na região da seção eleitoral”? Seções eleitorais estão espalhadas por todos os bairros de todas as cidades. E, por sinal, já estarão fechadas há muito tempo quando se encerrar a contagem nacional dos votos.

A convocação do presidente, portanto, é para que seus seguidores simplesmente estejam ocupando as ruas quando sair o resultado de sua provável derrota. Eles estarão frustrados, indignados, cheios das conspirações na cabeça… e muitos, provavelmente, armados.

Fonte: Poder360 (acesse aqui)

Autor: Poder360

Publicado em: 13/10/2022