Jamil Chade – TV Fórum – 20/07/22
Em entrevista à TV Fórum, o jornalista e correspondente em Genebra Jamil Chade fala do interesse internacional pela eleição brasileira: o país tornou-se o único grande bastião da extrema direita mundial, portanto todos os investimentos e esforços serão feitos para que Bolsonaro continue no poder.
Leia trechos da entrevista:
“Existe uma enorme preocupação sobre o que pode acontecer com o Brasil, porque o que está em jogo no Brasil, para o mundo, não é Jair Bolsonaro. Para o mundo o que está em jogo é a extrema direita. O Brasil é hoje a principal plataforma de sobrevivência e de influência da extrema direita no mundo. Não pela dimensão territorial, mas pela dimensão do Brasil nos debates diplomáticos e na influência política”.
“Ter a extrema direita no poder no Brasil interessa para grupos em várias partes do mundo. Essa eleição está mobilizando a extrema direita mundial. Você vê desde o Vox, na Espanha, até movimentos ultraconservadores americanos, todos engajados em reeleger Jair Bolsonaro. Por conta do Jair Bolsonaro? Claro que não. Duvido que saibam inclusive pronunciar o nome dele. Isso é irrelevante. O que é relevante é a manutenção da extrema direita no poder num país que importa no mundo. Por isso a eleição brasileira é curiosa: por sua repercussão mundial. Ali está em jogo a sobrevivência de um grupo que tenta influenciar nas resoluções da ONU, na postura da OMS sobre aborto, na postura de entidades específicas sobre liberdade de expressão. O Brasil cumpre uma função para a extrema direita no mundo. Se Bolsonaro perder a eleição é a extrema direita no mundo que perde a capacidade de influenciar vários desses órgãos internacionais”.
“O financiamento internacional da extrema direita é uma realidade, é eficaz e consolidado. A extrema direita mundial vai fazer o que for necessário para Jair Bolsonaro vencer a eleição no Brasil”.
“Quando Donald Trump perdeu a eleição, ele tinha uma Damares Alves. Era uma secretária de assuntos ‘de família’, da proteção da instituição da família, Valerie Huber. No último dia de governo do Trump, ele já tendo sido derrotado, ainda dizendo que era fraude, ela manda um email para todas as ONGs e grupos ultracatólicos e reacionários, dizendo: ‘Foi uma honra ter servido a esse governo, uma experiência impressionante, estamos nos despedindo. Mas, vocês da sociedade civil que estão ao nosso lado, se quiserem continuar a luta, e peço que continuem a luta, favor entrar em contato… com a Embaixada do Brasil em Washington’. Conhece a modalidade olímpica que passa o bastão e é a vez do outro correr? Foi isso que Trump fez quando saiu: ‘Presidente Jair Bolsonaro, é contigo agora: tá aqui o bastão, e é você que tem que correr pela extrema direita no mundo’. Está escrito num email, não é teoria da conspiração: é a representante do Trump informando aos reacionários do mundo que, a partir de agora, quem representa aquele governo de extrema direita é o Brasil”.
“Há alertas na cúpula da ONU dizendo que essa eleição é um risco. O que fez o governo brasileiro quando a ONU emitiu essa alerta? Disse o seguinte: ‘Não toleramos nenhuma interferência na nossa eleição’. A ONU não está fazendo nenhuma interferência. Está justamente dizendo: não cabe nenhuma dúvida sobre a democracia brasileira neste momento. É uma eleição brasileira com rara repercussão internacional. Eu tô aqui há 22 anos, e quem tá no exterior sabe disso: a eleição brasileira não é assunto internacional. É assunto internacional quando vira um questionamento, e esse é o momento”.
Assista à entrevista inteira:
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