Militares escoltaram fuga de invasores do Planalto

Guarda Presidencial agiu para que golpistas não fossem presos. Leniência com os acampados vem desde as eleições.

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Reportagem do UOL revela depoimento de servidor da Polícia Federal que estava no Palácio do Planalto durante os ataques de 8 de janeiro. Ele diz que militares escoltaram os golpistas até a saída de emergência, para evitar que fossem presos.

O depoimento serviu de respaldo para o ministro Alexandre de Moraes decidir que será o STF, e não a Justiça Militar, o foro para julgar crimes de militares nos atos antidemocráticos.

“Um militar orientava a tropa do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) para fazer um corredor e liberar os manifestantes para saírem pela saída de emergência para trás do Planalto: ‘Vamos liberar, fazer um corredor’; que vários manifestantes ficavam no local afirmando que o Exército os estava protegendo; que, então, o Choque subiu a rampa para acessar o Planalto; que um um dos militares que tentava organizar uma liberação para os invasores se dirigiu à tropa de choque da Polícia Militar do DF, tentando impedi-los de entrar: ‘aqui não, aqui não’”, diz trecho do depoimento. O servidor gravou vídeos que comprovam seu relato e os repassou à PF.

Ele também notou que, na entrada do anexo do Palácio do Planalto, a guarita de segurança onde ficam os militares do BGP estava abandonada. No túnel que liga o anexo 2 ao Planalto, onde normalmente há controle do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), “não havia ninguém naquela hora, com as catracas liberadas”.

“Ao descer ao salão das cerimônias, no segundo andar, o declarante se deparou com centenas de pessoas com camisas da seleção brasileira no local tirando fotos, gravando vídeos, outros conversando com os militares do BGP; que, nesse momento já estava tudo destruído no local; que os militares estavam com equipamentos anti distúrbio civil, mas não empregavam qualquer ação em face dos invasores”. “Alguns manifestantes estavam sentados em cadeiras, outros entravam e saiam do local tranquilamente, enquanto a tropa do BGP assistia a tudo pacificamente”.

Por volta das 17h, “chegou o maior contingente do BGP e passou a tomar posição no local, a partir de ordens do comandante”. Ainda assim, “os manifestantes entravam e saiam do Palácio, subiam e desciam os andares livremente; que eles fizeram uma posição de linha de costas para o elevador de acesso aos anexos e de frente para os manifestantes e continuaram sem tomar qualquer atitude”. “Os militares com os escudos apenas ficavam parados e outros militares, fardados ou com coletes do GSI, circulavam pelo local, conversavam com os manifestantes”.

Exército leniente

Outra apuração, da Agência Pública, revela documentos de órgãos de segurança que também comprovam a leniência dos militares com os golpistas em Brasília, desde novembro de 2022.

Alertas de outros órgãos não faltaram. Três dias antes de ser descoberto o plano de atentado a bomba na véspera do Natal de 2022, a Superintendência da Polícia Federal (PF) no Distrito Federal defendeu em despacho “a dissolução do agrupamento humano em frente aos Quartéis Generais”, como “medida imperiosa” para garantir a ordem pública. No entanto, o documento sequer chegou ao Comando Militar do Planalto (CMP) e à Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF). O motivo? Aquela não seria “atribuição” da PF.

A PM garante ter tentado desmontar o acampamento, planejando uma operação de retirada de ambulantes, barracas e energia elétrica do local. Mas os militares abortaram o plano. “A coordenação da operação é do Exército. Tínhamos 500 policiais militares em condições, e o Exército desistiu da operação”, disse o ex-comandante geral da corporação, Fábio Augusto Vieira, em 29 de dezembro.

De fato, o comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, tentou pôr panos quentes na crise, mesmo depois da noite de 12 de dezembro, após a diplomação de Lula como presidente, quando bolsonaristas do acampamento promoveram quebra-quebra e incêndios em Brasília. O general disse, no dia 22 de dezembro, que os militares mantinham constante “interlocução” com os acampados na frente do QG do Exército, “a fim de garantir o livre exercício de manifestações pacíficas”.

O Comando Militar do Planalto (CMP) deu guarida para bolsonaristas em Brasília logo após o segundo turno das eleições. Em 4 de novembro, autorizou, pela primeira vez, a entrada de um carro de som para embalar as manifestações golpistas em frente ao QG do Exército.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: Carolina Brígido

Publicado em: 10/03/2023