Ex-comandante da PM detalha golpismo militar

Preso por suspeita de omissão, coronel afirma que tentou várias vezes desmontar acampamento, mas Exército impediu.

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O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Naime, ex-comandante do Departamento Operacional da corporação, afirmou que tentou “várias vezes” desmontar o acampamento golpista junto ao Quartel General do Exército em Brasília, mas foi impedido por integrantes do Exército. Ele citou especificamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Jair Bolsonaro, então comandado pelo general Augusto Heleno.

“Fui colocado para fora”, disse Naime em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) sobre os atos antidemocráticos. Os acampamentos golpistas à porta dos quartéis, especialmente o que estava em Brasília, se tornaram “incubadoras” do terrorismo golpista de 8 de janeiro.

O ex-comandante afirmou que havia denúncias de tráfico de drogas, comércio ilegal, prostituição e até de estupro no QG. Militares e agentes do GSI impediam que a PM e a Polícia Federal investigassem os acampados.

Dedo na cara e xingamentos

“Eu fui acessar a área onde toda a população estava acessando, eu estava fardado, com viatura caracterizada e um patrulheiro do meu lado. Fui abordado por um soldado do Exército, que botou a mão no meu peito, me proibiu de entrar, chamou uma guarnição do GSI”, contou Naime à CPI.

“Vieram mais ou menos uns 15 [agentes] do GSI, aí a população [pessoas que estavam no acampamento] veio correndo atrás deles. Começou um sargento a falar comigo, numa forma totalmente fora do conceito militar, apontando dedo na minha cara, me mandando sair. A população começou a me xingar, me chamar de vários nomes, e fui colocado para fora”, prosseguiu.

Só 200 policiais

Naime, que está preso por suspeita de omissão nos atos golpistas, disse que estava de férias no dia dos ataques à Praça dos Três Poderes.

Afirmou não ter participado do planejamento da segurança na Esplanada dos Ministérios para 8 de janeiro, mas disse que a Polícia Federal garantiu que as manifestações previstas teriam “ânimos tranquilos e baixa adesão”.

Manifestou “estranheza” de que teriam sido destacados para a missão apenas 200 policiais, todos eles alunos do curso de formação. Em termos de comparação, disse que foram 2.193 os policiais militares escalados para a posse de Lula, em 1º de janeiro – ou seja, uma semana antes.

O número de 200 policiais do curso de formação consta em documento encaminhado à CLDF. O restante da tropa estaria de sobreaviso.

ETs e máfia do pix

O coronel disse ter ido ao acampamento em diferentes ocasiões. “Aquele pessoal dos acampamentos vivia em um mundo paralelo. Conversei com algumas pessoas, escutei relatos que falei ‘não é possível que essa pessoa está falando isso’. Teve um que falou pra mim que era um extraterrestre. Que estava ali infiltrado, e que assim que o Exército tomasse, os extraterrestres iam ajudar o Exército a tomar o poder”, relatou.

Ainda de acordo com o ex-chefe do Departamento de Operações da PMDF, havia nos acampamentos uma “máfia do Pix”: supostas lideranças do grupo solicitavam transferências diárias sob alegação de manter as estruturas de pé. Isso teria gerado, inclusive, discussões no próprio dia 8 de janeiro, quando um grupo que defendia a permanência no acampamento teria sido acusado por outros golpistas de querer ficar ali para receber mais dinheiro.

“A gente tinha informações de que estava acontecendo comércio de tendas. As pessoas montavam tendas ali, deixavam vazias, e alugavam para ambulantes durante o dia vender as coisas, aluguel de R$ 500, R$ 600”, complementou.

Fonte: Brasil de Fato (acesse aqui)

Autor: Redação

Publicado em: 16/03/2023