Reinaldo Azevedo – Folha de S. Paulo – 26/08/22
O colunista considera constrangedoras as críticas à investigação da Polícia Federal que resultou em mandados de busca e apreensão contra empresários simpáticos ao golpe.
Após a operação, os jornais e a TV abriram espaço para questionamentos quanto aos supostos excessos do Judiciário (utilizados pelo bolsonarismo como combustível para alimentar o mesmo discurso golpista que a Justiça tenta combater). Reinaldo Azevedo ironiza os juristas críticos da ação, “movidos por brios que pretendem libertários, revoltados porque pessoas de quase fino trato foram chamadas a responder por suas maquinações golpistas. Sentem aquela comichão para defender a ‘liberdade de expressão’. E indagam em tom exclamativo: ‘Quer dizer, então, que não podemos pregar golpe de Estado nem num grupo de zap!?‘. Não podem”.
Fica evidente que boa parte da indignação deve-se ao perfil dos investigados e até mesmo ao tipo de crime envolvido. Se o grupo não fosse composto por bilionários e se estivesse defendendo pedofilia, assalto a banco ou narcotráfico, quantos “democratas” apareceriam para defendê-lo? Afinal, pergunta o colunista: “com quais crimes se pode flertar e por quê”?
E ele lembra que o inquérito não se restringe ao “flerte”, mas mira ações concretas dos investigados no financiamento a agitações golpistas.
Além de driblar a omissão e até mesmo cumplicidade da Procuradoria-Geral da República, precisamos desenvolver mecanismos práticos para deter aqueles que querem acabar com a democracia. “Ou bem nos ocupamos da investida dos extremistas para capturar e solapar as defesas que tem o Estado democrático ou ficaremos a brandir espadas retóricas contra moinhos de vento, vencidos pelo exército informal que espalha ‘fake news’ e pestilência e convoca os insanos para a ação direta, a exemplo do que se viu no Capitólio”.
Reinaldo lembra Karl Popper em A sociedade aberta e seus inimigos: “Se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”. E conclui: “Lugar de golpista é a cadeia”.
Fonte: Folha de SP (acesse aqui)
Autor: Reinaldo Azevedo
Publicado em: 26/08/2022