Depoimentos revelam financiadores do golpe

Presos contam que receberam dinheiro e indicam participação de políticos e igrejas na organização do movimento golpista.

O UOL teve acesso a mais de mil depoimentos sigilosos prestados à Polícia Federal por bolsonaristas presos no acampamento no quartel-general do Exército, logo após o 8 de janeiro.

A informação de pagamentos para participação da tentativa de golpe fortalece a suspeita dos investigadores de uma estrutura financeira por trás do ato. Além dos ônibus gratuitos, também a alimentação foi fornecida durante todo o tempo em que estiveram acampados.

Douglas Augusto Pereira, de Pouso Alegre (MG), estava acampado no quartel do Exército local e decidiu viajar para Brasília após receber oferta financeira: “Recebeu, aproximadamente, R$ 1.200 em espécie e PIX”, contou em depoimento. Izaías Roberto da Silva, de Americana (SP), também viajou de graça e recebeu “doações” para permanecer em Brasília. Mesmo relato de uma mulher do Espírito Santo: “Chegou um cara no QG de Vila Velha dizendo que era empresário e que outros empresários juntos com ele iriam financiar a vinda”.

Políticos citados

A deputada federal Coronel Fernanda, do PL de Mato Grosso, e dois candidatos a deputado do mesmo estado foram mencionados como responsáveis pela organização de um ônibus com destino a Brasília às vésperas do evento. “Os três coordenam grupos de WhatsApp e organizam caravanas para Brasília já há dois anos; tais como fizeram por ocasião dos desfiles de 7 de setembro e 15 de novembro de 2021 e 2022”, contou uma presa à PF. “Todo mundo que vem nesses ônibus vem de graça e recebe todas as refeições de graça”.

Coronel Fernanda se junta a um grupo de parlamentares suspeitos por participação no 8 de Janeiro. Até aqui, Alexandre de Moraes já autorizou investigações contra os deputados federais André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP) e quatro políticos da Paraíba: o deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL), o ex-candidato a governador Nilvan Ferreira (PL), o deputado estadual Walber Virgolino (PL) e a vereadora Eliza Virgínia (PP), de João Pessoa. Outro nome incluído no inquérito é o da jornalista Pâmela Bório, ex-primeira dama da Paraíba, que esteve no dia da invasão em Brasília.

Todos esses são suspeitos de incentivar os atos de vandalismo. A deputada Coronel Fernanda seria a primeira deputada federal investigada por envolvimento direto na organização dos atos.

Caravanas de igrejas

Evangélicos presos depois do 8 de janeiro disseram em depoimento que foram mobilizados por igrejas. Sirlei Siqueira, de Sinop (MT), afirmou que viajou em uma “excursão da Igreja Presbiteriana Renovada”, mas não deu detalhes sobre o financiador. Também morador de Sinop, Jamil Vanderlino afirmou ter viajado em um “ônibus financiado por igreja evangélica”.

Um aposentado de Uberlândia (MG) relatou ter recebido a mesma oferta de um pastor quando participava de manifestação em um batalhão do Exército naquela cidade, mas afirmou não se lembrar de quem era. Ademir Almeida da Silva, de Maceió (AL), citou o nome do pastor Adiel Brandão de Almeida, da Igreja Batista, como um dos financiadores de sua viagem. Uma moradora de Xinguara (PA), frequentadora da Assembleia de Deus, disse que integrantes da denominação religiosa participaram da caravana a Brasília, mas não deu detalhes sobre o financiador.

Fonte: UOL (acesse aqui)

Autor: Aguirre Talento

Publicado em: 17/03/2023