“A ARROGÂNCIA FARDADA SÓ RECUARÁ SE A AUTORIDADE CIVIL EXERCER PLENAMENTE O MANDATO CONFERIDO PELO ELEITORADO. NÃO HÁ MEDIAÇÕES AQUI.”

Gilberto Maringoni – GGN – 30/11/22

É lastimável a notícia de que Lula faz concessões ao Alto Comando militar em troca de uma suposta “pacificação” com o setor. Os crimes dos últimos anos e o atual golpismo escancarado podem resultar, em vez da esperada e justa punição, num prêmio para os fardados.

Além das explícitas e crescentes ameaças de generais, coronéis e até militares de baixa patente, nos últimos dias os militares impuseram mais duas afrontas ao governo eleito: os comandantes das Forças renunciarão antes da posse de Lula e querem que seja anunciado um ministro da Defesa logo, sob sua aprovação, e sem que sequer seja criada uma equipe de transição na área.

O jornalista Gilberto Maringoni é mais uma voz no coro uníssono a explicitar por que é trágica, neste caso, a estratégia “pacificadora” de Lula.

O cargo é político

O cargo de ministro é político. A escolha cabe exclusivamente ao presidente, que exerce também o comando supremo das Forças Armadas. Não é prerrogativa da corporação.

O nome escolhido, José Múcio Monteiro, praticamente se autonomeou, mas não sem antes ser aprovado pelos golpistas: o general Hamilton Mourão o considera “um nome positivo para o cargo”. O mesmo Mourão que defende como missão do Exército combater a “esquerda revolucionária” e o comunismo no Brasil de 2022.

Anistia deu em Bolsonaro

“O histórico de arranjos e conciliações pelo alto na História brasileira forma uma sucessão de tragédias anunciadas. A imposição da anistia recíproca a militantes de esquerda e torturadores, em 1979 na vigência da ditadura, resultou na impunidade do atentado do Riocentro dois anos depois e na incubação da extrema-direita no meio militar. Esta reapareceu, quarenta anos depois, encarnada no bolsonarismo”, escreve Maringoni.

“O discurso negacionista dessa turma em relação à ditadura e às barbaridades cometidas entre 1964-85 resultou na não responsabilização de criminosos fardados, cujos sucessores se sentiram fortalecidos para voltar a brandir o discurso da eterna tutela sobre o poder civil, embalados nas ambiguidades do caput do artigo 142 da Constituição”.

Pacificação nenhuma

“É bem possível que por trás do comportamento do presidente eleito estejam promessas de pacificação das relações entre militares e o novo poder civil, em troca do esvaziamento das manifestações golpistas nas portas de quartéis. Se for isso, trata-se de derrota anunciada, sem disputa e sem pacificação alguma. Estará contratada a repetição da história de 1979 como farsa.”

“Deixar a caserna exercer autogestão onde ela não deve se meter – a esfera política – significa contratar a calmaria no curto prazo e receber tempestades no médio. A arrogância fardada só recuará se a autoridade civil exercer plenamente o mandato conferido pelo eleitorado. Não há mediações aqui. Em caso de recuo, o poder armado avançará sobre o poder cidadão”.

Chance de ouro

“Lula tem a chance de ouro de virar a esquina das conciliações pelo alto e de romper com uma desastrosa tradição brasileira, a de passar o pano para crimes dos de cima. (…) Este é o momento rooseveltiano dos cem dias após a vitória, no qual o novo poder tem força suficiente para impor seus termos a um oponente cuja maior força reside em parlapatices costumeiras. Não é interessante comprar ameaças pelo valor de face, quando podem valer menos no mercado das lorotas públicas”.

Fonte: GGN (acesse aqui)

Autor: Gilberto Maringoni

Publicado em: 30/12/2022